Último Trottoir

Lá fora faz frio como há muito tempo nunca vi

Várias pessoas nunca mais passaram por aqui

Um mesmo sim, no cinismo do dia seguinte

Compacto, imediato, ação invariante

Um muro junta o que iria dividir

Expressões cerradas do que ainda está por vir

Tudo se separa, nada se configura

E o trottoir continua lá fora

Há indícios que a guerra nunca aconteceu

No teor da divisão, sobra você e eu

O kamikaze covarde implode respostas

O meu obsoleto se torna teu ativo

São vários barcos naufragando no deserto

A crescente vontade de te ter por perto

Nada se separa, tudo se configura

E o trottoir continua lá fora

Foi numa manhã de domingo

E tudo aconteceu

A esperança marchava

Então tudo morreu

O futuro estava escrito

Nas páginas do passado

E ninguém se atreve

A ir pro mesmo lado

Se alguém é diferente

O Ninguém é igual

Saído de um filme noir

Pra o mundo real

E tudo parece igual

Quando no fim do dia

Ninguém é o mesmo

Olha só, quem diria?

Eu vejo o ostracismo de uma estrela cadente

É tão natural, ser indiferente

O sorriso claustrofóbico na boca do palhaço

Atenuante, antenado, complexos ativados (ou lacrados?)

O velho curumim, ainda na escada

Agora distraído na sua emboscada

Tudo se separa, tudo se configura

E o trottoir continua lá fora

Ando tão monocromático

Preso na intersecção

"De qualquer lugar"

E "do sem direção"

Um pesadelo emblemático

Que não tem cura certa

Tudo se comprime, redime

No final da reta

Um mal intencionado

Na janela do prédio

Um bando de selvagens

Clamando um ode ao tédio

O fone no ouvido

Repassando a mensagem

Num anúncio parecido

"Precisa-se de coragem"

Nas bandeiras multinacionais que balançam nas ruas

Entre histórias e sonhos antigos, resta um espaço

Um beijo partido, de um amor inteiro

Relativo, insensato, retrocesso avançado

Somos incapazes de lutar a mesma luta

Empatamos os juros de uma mesma disputa

Nada se separa, nada se configura

E o trottoir, dessa vez, até mais