Análise da Música Nuvem - Engenheiros do Hawaii

Desde que nasci, tenho uma forte relação com a música. E é curioso o fato de que elas sempre me aparecem de repente, e quando me dou conta, não poderia eu ter tido uma melhor trilha sonora para o momento pelo qual estava passando. A música a seguir, é especial para mim, não apenas por ter me guiado uma vez, mas sim duas. Na primeira, lembro-me de estar envolvida em um relacionamento que o tempo já havia deteriorado, mas eu insistia em tentar recuperar. Estava confusa com os meus sentimentos há bastante tempo, mas não encontrava em lugar nenhum uma resposta. Um belo dia, enquanto vasculhava a lista de músicas no computador, apareceu “Nuvem”. Assim que a escutei, fui acometida por uma onda de tranquilidade, e assim tive a certeza do que deveria fazer. “Se está com ele, está sozinha”, “Diga adeus, diga adeus”. E eu fui embora. Nos primeiros dias, foi difícil, mas em pouco tempo percebi que havia tomado a decisão certa. Eu estava bem.

No entanto, de uns tempos para cá, eu tenho questionado certezas e abusado de um ceticismo que confesso, eu não deveria ter. Logo eu, que sou tão abstrata… Mas enfim. O que eu quero dizer é que ao analisar as entrelinhas de “Nuvem”, tive a impressão de que não se tratava apenas de um relacionamento fracassado com uma pessoa qualquer. Ela ia além do plano material, e relatava o relacionamento entre o ser humano e Deus. É o retrato de grande parte da sociedade, que muitas vezes tem medo de não ter alguém para se segurar, ou salvá-las após a morte.

Então, resolvi compartilhar a minha viagem com o mundo. É a minha primeira análise, e acredito que tenha ficado um pouco confusa, mas aos poucos eu melhoro.

Nuvem – Engenheiros do Hawaiii

"Se está com ele está sozinha

e sozinha não quer mais ficar

se está com ele é porque quer

porque não quer mudar

Essa estrofe trata da relação de uma mulher (certamente), com Deus. Muitas pessoas se dizem cheias de fé, no entanto, são poucas as que realmente se entregam a Ele. Por isso sentem-se sozinhas, pois pelo fato da fé não ser suficiente, não é como se tivessem Deus ao seu lado, e sim como se ele fosse apenas algo instituído por outros povos ao longo do tempo. A moça diz ter Deus em sua vida porque assim é mais cômodo. Basta vestir a sua máscara religiosa, e desfilar por aí. Assim, não há a necessidade de criticar, ou de assumir sua não religiosidade para a sociedade, que em muitos casos, encara esse fato com certo preconceito.

Diga adeus

diga adeus ou não diga nada

diga adeus

O refrão, quando lido, pode não fazer muito sentido. Mas quando ouvimos a música, Podemos interpretar o “adeus”, como uma referencia a Deus. Assim, tudo que a moça tem de fazer, é dizer a Deus como se sente. Ou continuar na comodidade de não assumir seus próprios sentimentos.

Se está chegando o fim da linha

Tá na hora de saltar

se está com ele está sozinha

e sozinha não quer mais ficar

A vida da moça está cada vez mais difícil, e a solução para seus problemas parece mais distante. E de nada adianta rezar, ou pedir a Deus que fique tudo bem. É como se a moça estivesse realmente sozinha, e não é capaz de ouvir as respostas e os conselhos que Deus lhe daria. Está na hora de abandonar a comodidade, e fazer alguma coisa, porque nada irá se resolver somente pelas preces e a vontade de Deus.

Diga adeus, adeus

ou não diga nada

diga adeus

Nessa outra parte do refrão, me chamou a atenção o jogo de palavras feito pelo compositor Humberto Gessinger em “Diga adeus, adeus”. Podemos interpretar a frase como se fosse, de fato, um “Adeus, a Deus”. (O mesmo recurso utilizado por Chico Buarque, na música “Cálice”, quando ao cantar “Afasta de mim esse cálice”, deixou subliminarmente a ordem de “calar-se”)

Não vá perder a hora certa com a pessoa errada

diga adeus, !Adeus!

A vida não pode ser um conta-gotas na tua mão

Não podemos viver como se filtrássemos e controlássemos tudo. Na maioria das vezes, os problemas (e as alegrias, também) vêm de maneira intensa e incontrolável. De nada adianta querer viver aos poucos, com o mesmo controle que se tem ao usar um conta-gotas.

Chuva que não chove…sol que não sai

a vida não pode ser medida com precisão

motor que não se move…nuvem que não se vai"

Nessa estrofe, a chuva pode ser considerada um símbolo da tristeza e da melancolia. Nos livros, filmes e histórias em geral, o tempo frio e a chuva torrencial é o cenário para o drama dos personagens. Já o sol, pode significar o renascimento, a luz, e as alegrias. A “chuva que não chove” são aquelas tristezas que só existem porque alguém as procura, enquanto o “sol que não sai”, é a alegria perene. Nesse caso, nenhum dos dois pode durar a vida inteira, e segundo a música, devemos deixar a comodidade dos nossos sentimentos de lado, e procurar sentir as coisas de forma intensa e verdadeira. Afinal, não podemos controlar nossos passos, quiçá nossos desejos.

Ainda nessa estrofe, é citado o “motor que não se move”. Eu posso estar louca, mas lembro-me uma vez, que um professor de filosofia comentou que na concepção de Aristóteles, Deus era o “Primeiro Motor”, pois dava origem ao mundo, além de ser perfeito, imóvel e imutável. Com isso, podemos concluir que o “motor que não se move”, na música, é esse Deus, que para muitos é onipresente, mas para outros, não. Seguindo a mesma linha de raciocínio, na literatura simbolista, é comum o uso de elementos como o céu, as nuvens, e qualquer outra coisa que remeta à cor branca, para representar esse aspecto de pureza, que no movimento, está relacionado a aspectos religiosos e transcendentais.

E para quem quiser ouvir, segue o link:

Bárbara Ornellas
Enviado por Bárbara Ornellas em 26/10/2012
Reeditado em 26/10/2012
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