Quando dá vontade de não ser.
Solitário como se sempre se fez
andarilho sem pausa, sem causa,
dá vontade de morrer.
Depois de tantos engasgos,
tantos desencontros em si mesmo,
dá vontade de correr.
Asas puídas, pés estranhos, rosto sem cor,
procura loucamente um pedaço de pão, em vão,
dá vontade de não ser.
Outrora foi rígido, saudade vem tanta,
outrora foi abençoado por Deus,
dá vontade de entender.
São pequenas fagulhas molhadas, ocas,
que tentam sair dele em vão, em vão,
dá vontade de esquecer.
Parece que o suor não unta mais os ossos,
parece que a palavra se enferrujou de vez,
dá vontade de não sofrer.
Então os acordes ficam atônitos, afônicos,
a quermesse arria suas vestes, o dono pede perdão,
dá vontade de correr.
Nessa golfada o gargalo se encanta,
a toada se imanta, o socorro vem de sopetão,
dá vontade de não ser.
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