Um homem falando alto
blasfema cospe e xinga.
Outro filosofa
junto dum copo de pinga.
Uma mulher de vida fácil
reclama difícil vida.
Um jogo preocupado
numa mesa escondida.
É no botequim
da esquina
que a gente fica sabendo
o que vai acontecendo
por aí...
Um rádio desafinado
fã da música de outrora.
Gente chega pede algo
paga a conta
vai-se embora.
Um cachorro vagabundo
pé na bunda é enxotado.
O jornal, jornal do dia
lá num canto, amarrotado.
É no botequim
da esquina...
O papo do futebol
sempre fica exaltado.
O salgado e a bebida
no caderno do fiado.
A fézinha no zoológico
sempre muito concorrida
um velho da política
discursando p. da vida.
É no botequim
da esquina...
O cego da loteria,
o bicudo enjoado,
a turma do violão,
o cantor mascarado,
a menina do chicletes,
a piada apimentada,
e num canto uma vitrola
quase sempre desligada.
É no botequim
da esquina...
E agora emudece
meu sonoro violão,
pois a turma me acena,
já ganhei o meu quinhão.
Vou calar a minha voz,
vou soprar minha fumaça,
vou comer o meu salgado,
vou tomar minha cachaça.
É no botequim
da esquina
que a gente
fica sabendo
o que vai acontecendo
por aí...