EM TEMPOS DE DESENCANTO

Novos dias que não chegam até mim

O cansaço da espera me judia.

Flores velhas e amassadas no meu jardim..

Na TV que audiência, há violência;

Na escola não tem aula, houve morte ali.

E nem no ônibus a gente escapa, é sem dormir.

Noutro lugar a filha mata o pai e a mãe;

E tem o pobre que se socorre em oração,

Rogando a Deus que a fome acabe

Enquanto isso faz mais irmão.

Mas as branquinhas prometem a solução:

Uma é pó e custa caro e dá barato

A outra é líquida e é social.

Aí eu me pergunto se as duas fazem mal.

Se a fome e a miséria não são o próprio caos.

Quero saber, alguém vai ter que me dizer...

Que a vida é bela e não podemos sofrer;

Quero que digam que o sol que nasce todo dia

Nasce pra todos e trás alegria.

Que a poesia é muito bonita e é amor,

Se o poeta sente fome e não vive amor.

Bem lá na esquina tem o camelô

Que canta versos com voz de tenor...

Chega o rapa e silencia o nobre cantor.

Lá na favela mora a menina que bate lata,

Que desce o morro e vai pra quadra ensaiar

Mas o grã-fino no carrão quer lhe pegar.

E como anda a vaidade e a visão?

Dos poderosos que só querem governar

Sem o seu povo libertar, corrupção.

Que seja o mundo renovado, tirem as máscaras!

Que seja a vida de esperança um ideal!

Que venha o homem ao estado natural,

Amando ou chorando, mas que deixe de ser animal.

Carmen Rubira – outubro, 2006.

Carmen Rubira
Enviado por Carmen Rubira em 07/02/2007
Código do texto: T372196