Da janela do 8º andar
Da janela do 8°andar eu vejo as almas em vaivém.
Corre-corre de carros gente de bem e os órfãos urbanos pelo meio,
Trombadinha em ação é bicho feio rebentos da miséria assassina
Causada por gravatas de seda de raposas do planalto central
Da janela do8°andar eu vejo um garoto no sinal,
Brincando com esferas coloridas alegra o insensato concreto.
Vejo alguém passando por mim achando que podia voar,
Lá em baixo a morte o espera a quimera se apaga no ar
Da janela do 8° andar vejo o dia morrendo ofegante,
A cantiga frenética do feirante, o asfalto qualhado de luz.
Almas estiradas vão pra casa, doutro lado da cidade almas cantam.
Madrugada chegando me condena a fechar a janela e calar os olhos.
Eu inerte de olhos calados recorro à lembrança e a ilusão,
A vidinha lá do meu sertão a cacimba barrenta o roçado
A mulher, os filhinhos, o gado o forró sob a lua macia.
Ai meu Deus já é barra do dia, me chamando a sonhar outra vez.
E assim segue o itinerário meu olhar fala aquilo que vejo
Carro e gente correndo é desejo de vencer é o medo na mão
È brincar de polícia e ladrão, é cantar a alegria da feira,
Quem vive no sinal não é brincadeira, novamente o céu ta no chão,
Da janela do 8°andar eu assino essa minha canção.