DESAFIO, GRANDE BOIADA (GALOPE A BEIRA-MAR)
No deserto da minha inconsciência
não pesava nada além de ignorância;
nada via, pois não tinha a substância,
nem mistério, nem tempero, nem essência.
No dia-a-dia da remida penitência,
procurando uma razão e acreditar
pra que possa nessa vida encontrar
um sabor que me adoce esse desejo.
Mas por certo no martelo eu pelejo
e viro o mundo num galope à beira-mar.
As crianças da longínqua Palestina,
as mulheres sem clitóris do Sudão,
os abalos que varreram o Japão
são fantasmas dessa sina Severina.
E quando os fardos assistimos da retina
a razão volta, a si, a questionar,
por que vejo meu planeta definhar
e o homem se entregar a este rastejo.
Mas por certo no martelo eu pelejo
e viro o mundo num galope à beira-mar.
Se as saudades são marcadas com feridas,
alegrias foram só recordações,
das heranças, permanentes emoções,
que prosseguem no traçar de nossas vidas
- franciscanas, solados ralos sem tiras,
doidivanas ou jogadas ao luar -
E por dentro duma paz aconchegar
os meu sonhos num distante lugarejo.
Mas por certo no martelo eu pelejo
e viro o mundo num galope à beira-mar.
E nas sombras do poder absoluto,
no curral da completa intolerância
moram vermes produtores da ganância
de sorriso, branco, forte e resoluto.
E o caráter se tornou subproduto,
um disfarce para si recompensar
da fraqueza de quererem desfrutar
todo instante como forma de vicejo.
Mas por certo no martelo eu pelejo
e viro o mundo num galope à beira-mar.
 
E pode o mundo ser um elo perdido?
E os campos que cavalgo serem vastos?
Pode até minhas idéias serem pastos,
Para todo e qualquer ser oprimido?
Não critico e nem acho divertido
figurar como mais um na multidão,
para viver respiro sem certidão,
e seu sopro me transporta por lampejo.
Mas por certo no martelo eu pelejo
E viro o mundo num galope à beira-mar.