Canção dos olhos castanhos

Nós que ficamos vagando pelas tardes

Tentando encontrar beleza no que não existe

Fazemos da nossa eterna busca

Um encontro com o íntimo triste

O que há de belo e admirável

É o que vem de dentro para se mostrar

Ou a força do medo de se mostrar

A timidez no alarde dum olhar

Nós que tentamos ficar cada vez mais bonitos

E nunca conseguimos mais ficar

Tentamos mostrar o que não devíamos

E esconder o que se devia mostrar

Os que diziam que nós devíamos nos casar

Apesar de estarem errados

Tinham a nossa pureza de olhar

E ver o amor com nossos olhos castanhos

Os mesmos que te tratavam de menina

Me remetem o amor que tinham no passado

E que hoje por ti se multiplicou

E logo se abrigou no meu coração

Nós que erramos tanto quanto os outros

Somos outros para os tantos

Não somos sós neste mundo

Somos acariciados ou vigiados a cada segundo

Nós que assistimos a beleza dos mimos

Também enxergamos nos entremeios, desatinos

Dos quais tiramos lembranças e tirocínios

Nós que amamos os nossos filhos

Os que nos ensinaram os votos do casamento

Sorriem ledos com a nossa decisão

Do que não apreciávamos como união

E um dia nos casaremos por pensamento

E um dia nos casaremos em pensamento

Como tantas vezes já fizemos

E teremos filhos por telepatia

Como tantas vezes já tivemos

Nós que ensinamos aos tantos como amar

Não sabemos ensiná-los a se encontrarem

Pois a experiência não nos proporcionou

Esta alegria e não podemos passar este sorriso

Hoje, num lugar onde não se passa o tempo

Sorrirão ledos os que nos reprovaram

Vendo que o amor é mesmo um momento

E que o tempo que não passa faz dos momentos, eternos

E um dia nos casaremos em pensamento

Como tantas vezes já fizemos

E teremos filhos por telepatia

Como tantas vezes já tivemos