MATUTO NA FAVELA

Nem é do boteco que eu gosto tanto,

Mas me identifico com o que rola lá

Lá tem matuto de todos os cantos

Nordeste, Goiás, Minas e Paraná

Lá rola conversa do tempo da enxada

Boi na invernada, outras coisas assim

Nessa hora esqueço que estou na bocada

E trago a esperança pra junto de mim

Tome aqui outro gole que hoje é Natal

Nem tudo é tristeza nem tudo é mazela

Só um desabafo de um capiau

Que, desenraizado, mora na favela

Sou mais um matuto no meio do povo

Atrás daquilo que me prometeram

Juro se eu pudesse escolher de novo

Não mais compraria o que me venderam

Vejo a molecada viver desse jeito

Aí no meio tem mais de um filho meu

Bate uma incerteza, um aperto no peito

Só que eu entrego tudo nas mãos de Deus

Interessante mesmo é o que acontece

Em função da mescla que aqui ocorreu

Colado à Capela onde faço a prece

Aos poucos floresce esse canto meu

Enche de razão minha porção matuta

Que é quem penera aquilo que vejo

Filho da mistura, do verde, da luta...

Ainda preso à conduta do bom sertanejo

Paulino Neves
Enviado por Paulino Neves em 15/04/2012
Código do texto: T3613987
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