MATUTO NA FAVELA
Nem é do boteco que eu gosto tanto,
Mas me identifico com o que rola lá
Lá tem matuto de todos os cantos
Nordeste, Goiás, Minas e Paraná
Lá rola conversa do tempo da enxada
Boi na invernada, outras coisas assim
Nessa hora esqueço que estou na bocada
E trago a esperança pra junto de mim
Tome aqui outro gole que hoje é Natal
Nem tudo é tristeza nem tudo é mazela
Só um desabafo de um capiau
Que, desenraizado, mora na favela
Sou mais um matuto no meio do povo
Atrás daquilo que me prometeram
Juro se eu pudesse escolher de novo
Não mais compraria o que me venderam
Vejo a molecada viver desse jeito
Aí no meio tem mais de um filho meu
Bate uma incerteza, um aperto no peito
Só que eu entrego tudo nas mãos de Deus
Interessante mesmo é o que acontece
Em função da mescla que aqui ocorreu
Colado à Capela onde faço a prece
Aos poucos floresce esse canto meu
Enche de razão minha porção matuta
Que é quem penera aquilo que vejo
Filho da mistura, do verde, da luta...
Ainda preso à conduta do bom sertanejo