Incompreensível
Sabe aquela dor que nos parece a mais mortífera?
Aquela na qual nos paralisa de temor
Mesmo que apenas nós tenhamos o seu conhecimento?
Se o Senhor a conhece, não somos tão distintos assim.
Sabe aquela lágrima que é jorrada sobre o relento?
Aquela que escondemos da nossa ciência em frente aos outros
Enquanto alguns compartilham com o travesseiro?
Se o Senhor a nega em consentimento, não sou tão incompreensível assim!
Logo o Senhor, tão seguro de si e de suas vontades
Um tanto ingênuo conforme a minha ambiguidade
Dispõe de constantes perguntas sobre sua inexplicável busca
Para responder-lhe mais de uma vez a real prioridade.
Logo o Senhor, que na minha visão sobre a sua natureza
Desprezaria minhas meras confusões por conseqüência da turbulência em meu peito
Na qual olharia friamente na profundeza da minha prisão, suspirando
Enquanto em seus pensamentos murmuraria o quão insignificante sou
O quão patético são meus infantis anseios.
Neste instante, Senhor, fito-lhe de perto mesmo a esta grande distância
Distância essa que impomos um ao outro
Sob a fortaleza que criamos para nos resguardar
Sim, nós as temos por escolha própria
Ainda que por razões diferentes que só nos dizem respeito.
Depois de tudo, apesar da batalha interna que se mostra eterna
Eu pergunto silenciosamente: Qual de nós dois é o monstro, agora?