DORMIR EM PAZ
O ar ficou áspero de um jeito que nunca foi
o tempo menstruou e inerte ficou de vez.
As cores ficaram zonzas feito moscas bêbadas,
o gosto ficou musgo como sempre se fez.
Então o que parecia esparadrapo ficou gozo,
o que se dizia pirata desnudou sua fé,
as idéias se embaralharam feito rastro de amor,
os olhos ficaram negros feito sopro de gado perdido.
Então fomos juntos aos prantos, como sempre quisemos,
deixamos nossas armas na beira do rio pra descansar,
deixamos nossos cabelos se amarem como dois loucos,
deixamos nossas fronhas se atracarem até todo o sempre.
Quem quisesse gritar que engolisse seco,
quem quisesse se fartar que viesse à luz
desamarramos nossas veias pro sangue virar um só
então fomos dormir em paz.
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