MORENA
Morena do olho de vidro
do peito franzino
do corpo ásperto toda vida.
Morena das anáguas puídas,
do canto surrado,
do cheiro bandido,
do gozo estalado,
dos remendos desafinados,
das calhas rasgadas,
dos passos sem rima.
Morena da voz suada
dos beijos trincados
da mão agreste,
do grito bastardo,
das poças de lama em flor.
Morena da cama enjaulada,
das feras desfraldadas,
dos copos grávidos cheios gim.
Morena das fuligens sem alforria
do pecado esbelto
da lama vaginada ardendo de tesão.
Morena das vértebras enxarcadas
dos tombos mortos,
do sangue saindo pelo ladrão.
Morena dos pelos aflitos
dos meses expulsos do ano
do fogo feito língua de Arlequim.
Morena entrincheirada no peito caído
saindo da ressaca como vigário louco
sendo tudo que sempre quis.
Morena que agora está longe
parindo outros rebentos que nunca serão mais meus
fazendo troça da minha saudade, toda ela.
Morena que agora desafina meus pecados
faz de mim um lixo nojento qualquer
leva meu corpo para um repouso que nunca mais terei.
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