QUANDO ESCUTO UMA MILONGA
Quando escuto uma milonga
Num ritimado compasso
Entre a prima e o bordão
Vejo dedos simbrando o braço
Dividindo o mesmo espaço
Com as cordas de um violão
Quando escuto uma milonga
Vejo dois corpos abraçados
É o guitarreiro e seu violão
Num embalo paleteado
Mesclando um dedilhado
Com o bater do coração
Como uma faca prateada
Pelas frestas do galpão
A luz ciumenta da lua
Refletida no violão
Vem dançar num galopão
Uma milonga xirua
Quando escuto uma milonga
Fecho os olhos e me concentro
Para ver melhor o meu pampa
Escancarado aqui dentro
E ouvir nas vozes do vento
A minha querência que canta
Quando escuto uma milonga
De pronto vou me aquietando
E deste amargo matreiro
Despassito vou tragando
E aos poucos reverenciando
A alma do milongueiro