Utopia

Padre Zezinho


Das muitas coisas
Do meu tempo de criança
Guardo vivo na lembrança
O aconchego de meu lar
No fim da tarde
Quando tudo se aquietava
A família se ajuntava
Lá no alpendre a conversar

Meus pais não tinham
Nem escola e nem dinheiro
Todo dia o ano inteiro
Trabalhavam sem parar
Faltava tudo
Mas a gente nem ligava
O importante não faltava
Seu sorriso, seu olhar

Eu tantas vezes
Vi meu pai chegar cansado
Mas aquilo era sagrado
Um por um ele afagava
E perguntava
Quem fizera estripolia
E mamãe nos defendia
E tudo aos poucos se ajeitava

O sol se punha
A viola alguém trazia
Todo mundo então queria
Ver papai cantar pra gente
Desafinado
Meio rouco e voz cansada
Ele cantava mil toadas
Seu olhar no sol poente

O tempo passa
E hoje eu vejo a maravilha
De se ter uma família
Enquanto muitos não a tem
Agora falam
Do desquite e do divórcio
O amor virou consórcio
Compromisso de ninguém

Há tantos filhos
Que bem mais do que um palácio
Gostariam de um abraço
E do carinho de seus pais
Se os pais se amassem
O divórcio na viria
Chamam a isso de utopia
Eu a isso chamo paz.

 
"Belíssima composição poética e melodia desse grande poeta e profeta Padre Zezinho. Sua letra diz muito sobre a realidade das famílias em nossa sociedade. A referência de modelo familiar descrita, em nada mais se parece com milhares de famílias desajustadas, fragmentadas, onde não reina mais ou nunca reinou o amor verdadeiro.
Pessoas brincam de "constituir família" sem a devida noção das responsabilidades e do amor necessário para levar adiante e até o fim a difícil e sublime missão que Deus nos confiou. E, sem dúvida, os únicos e maiores prejudicados são os filhos, e mais ainda quando são crianças. Eles acabam pagando um preço muito alto sem ter nenhuma culpa pelos erros dos pais.
As perdas são irreparáveis na vida futura dos filhos de pais, não só separados mas desajustados, que não entendem ou não consideram a importância da segurança afetiva, em primeiro lugar na vida de seus pequeninos ou adolescentes."
       Por: Isis Dumont

 
Padre Zezinho
Enviado por Aparecida Ramos em 05/11/2011
Reeditado em 05/11/2011
Código do texto: T3318280
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