CONTRASTES
Quando você morrer
De novo, outra vez
Embriagado em plena lucidez
Alienado como quem protesta
Fazendo festa em silêncio
Como um sábio talvez
Será protagonista
da sua própria estupidez.
Quando o clarão da negra noite vier
O homem que habita em ti
num corpo de mulher
Com toda a força da fragilidade de uma
meretriz
Se sentirá viril na castidade
De quem se prostitui pra ser feliz.
Quando o apogeu da mediocridade acontecer
Você verá que tudo que viveu até aqui
foi ilusão
E na utopia de quem sonha acordado
Vai descobrir que enrustido em ti
Reside o oposto do teu mesmo lado.
Quando em teu choro meu sorriso aberto
Ecoar ao longe o que está sempre perto
Saberá que o amor se contrapõe ao gesto
Quando tua mente transcender o gozo
E seu corpo trêmulo se apossar do mel
Quando a inquietude se fizer repouso
por sobre o vergel
Verá que a doçura que teu lábio busca
Se ofusca no amargo do gosto do fel.
E sendo assim:
Na inquietude do meu pensamento
Invento coisas pra justificar
Alienado como quem procura em vão a cura
E faz de tudo pra não encontrar.