CONTRASTES

Quando você morrer

De novo, outra vez

Embriagado em plena lucidez

Alienado como quem protesta

Fazendo festa em silêncio

Como um sábio talvez

Será protagonista

da sua própria estupidez.

Quando o clarão da negra noite vier

O homem que habita em ti

num corpo de mulher

Com toda a força da fragilidade de uma

meretriz

Se sentirá viril na castidade

De quem se prostitui pra ser feliz.

Quando o apogeu da mediocridade acontecer

Você verá que tudo que viveu até aqui

foi ilusão

E na utopia de quem sonha acordado

Vai descobrir que enrustido em ti

Reside o oposto do teu mesmo lado.

Quando em teu choro meu sorriso aberto

Ecoar ao longe o que está sempre perto

Saberá que o amor se contrapõe ao gesto

Quando tua mente transcender o gozo

E seu corpo trêmulo se apossar do mel

Quando a inquietude se fizer repouso

por sobre o vergel

Verá que a doçura que teu lábio busca

Se ofusca no amargo do gosto do fel.

E sendo assim:

Na inquietude do meu pensamento

Invento coisas pra justificar

Alienado como quem procura em vão a cura

E faz de tudo pra não encontrar.

Marçal Filho e Saulo Campos
Enviado por Marçal Filho em 05/08/2011
Reeditado em 12/02/2023
Código do texto: T3141715
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