HERÓIS MENINOS
A cama é de jornal
O travesseiro é um tijolo
O cobertor é papel de cimento
A moradia é o calor, sereno e o vento.
Meninos no meio das ruas
Sentados nos bancos da Praça da Sé
Engraxate às contas, outros sacos de laranja
Uma é cem, três por “duzento”
Hoje “tô” que não me aguento.
Ninguém vê, ninguém vê, ninguém liga
Todos mergulhados estão
Nos seus problemas
Vai uma balinha aí moço?
Bugigangas nas portas dos cinemas.
Preciso dum trocado pra comer um pão
Me acuda moço, deixa eu morrê não
Olha a rapa gente:
Vamo escapá, pois é o camburão.
No alto alguém promete
(promete, promete, promete)
Embaixo a luta do sobreviver
Vão acabar com o sofrimento
Querem acreditar: -Mas só fica no querer-
Refrão...
Meninos peito de aço
Fôlego longo, sete vidas
A raça marcando presença
A fé, o jogo, a reza e a crença
O ódio e o desespero
Deixando cicatrizes
Sem dúvida nenhuma
Meninos, heróis das marquises.