SE DEUS EXISTE.

Se Deus existe, por que o dedo em riste?

Por que as inflamações, os desvios,

por que os rasgos, os tragos sem fim?

Se Deus insiste, por que os engasgos?

Por que ossos quebrando, portas rangendo,

o suor escorrendo, a vida minguando, porquê?

Se Deus existe, por que tão poucos galopes da fé?

Por que tantos socos, por que tantos urros,

tantas surras, tantos surrados, por que que tantos prantos,

tantos poucos encantos?

Se Deus persiste, por que tantos corações travando?

Tantas subidas, tantas poucas lambidas, tantos senões? Tantos poucos encontros? Por que? Por que?

Se Deus resiste, onde está a raiz, o fio de prumo? Por que a sorte passa sempre por um triz?

Se Deus existe, por que as ladainhas pedem a bênção e os faraós ainda não viraram fuligem? Por que, Deus?

Se Deus insiste, onde ficam seus cordéis, seu fumo de corda,

seu mato roçado, Xangô cadê você? Eu cadê você?

Se Deus existe, cadê a arte, por que tanto descarte, porque sermpre a paixão parte, por que sempre o chão arde?

Se Deus existe, será que existe Deus?

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