O PÁO SECO E VENCIDO QUE NUNCA VIRÁ.

O tempo brinca com a vida, brinca com o tempo,

vai pra onde quiser, pára onde desejar,

manda prender, manda soltar, manda matar.

O tempo é alegoria, pura anarquia,

enxerga sem luz, respira sem ar,

pulsa sem coração no peito,

pensa sem um neurônio sequer.

Tempo é amigo, é ombro, é irmão,

por vezes vira carrasco pronto pra puxar a corda,

pode ser água abençoada que nos saciará a vida,

verdadeiro bálsamo pros dias que nunca deveriam ter nascido,

nunca mesmo.

Tempo é moleque, é doutor, é tradutor,

é tudo numa coisa só,

olha pra gente, ri até não poder mais,

pode ficar calado numa eternidade sem trégua,

vai saber, vai saber.

O tempo sacia ou nos indigesta a alma,

faz o nosso suor virar ferrugem, deixa nossa voz oca,

suas vértebras caminham feito bêbadas meretrizes pra onde der,

seu sangue calibra nossos sonhos com precisão maestral.

O tempo se anágua feito cabresto despencando nas estribeiras do medo,

destrona nossos desejos sem piedade ou culpa,

acaba velho, atirado num canto qualquer, esperando seu pedaço

de pão seco e vencido que nunca virá.

Nunca mais virá.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 06/07/2011
Reeditado em 06/07/2011
Código do texto: T3078309
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