PALAVRANDO.
A palavra desnata, desmata,
desacata, desfigura.
Faz ranhuras na alma
desalma, descama.
Inflama, exclama,
berra.
Decanta, espera,
soterra.
A palavra entorna
põe a paixão na bigorna,
fica malsã.
Invoca Iansã,
fica anã,
se agiganta.
A palavra é céu,
é cruel,
Rapunzel.
Ela embebeda,
descabela, desnovela,
nos segura na queda,
é pedra, é pedra.
A palavra empesteia,
faz tudo uma grande teia,
transforma o amor em arei,
é sereia, é sereia.
A palavra tem mil vozes,
atrozes, algozes,
deixa o mundo mudo, escudo,
goza, goza, goza.
É semen poderoso,
aveluda o gostoso,
traz magia, alegria, alforria,
desperta, desaperta,
liberta.
A palavra é coisa certa,
flecha direta,
bálsamo bendito.
No seu sangue tudo leva,
vai do infinito à relva
acaba com o maldito.
A palavra estende a mão,
faz abraçar o irmão
dá cheiro, gosto, textura.
É morteiro, ogiva, apura,
faz bater de novo o coração,
acaba com toda alma escura,
acaba com toda alma escura.
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