COZINHEIRO DO TEMPO
Fui ao grande hotel da vila
pedi um prato de paz :
comi guerra guarnecida
com cabeça de rapaz ...
Fui ao grande hotel da vida
pedi um prato de 'sprança :
comi raiva guarnecida
com corações de criança !
Ó cozinheiro do tempo,
se não aprendes mais nada,
serás um dia alimento
nos dentes de uma granada !
Fui ao grande hotel da roda
pedi vinho do tonel :
bebi petróleo da moda
com sabor a "mâitre-hotel" ...
Fui ao grande hotel 'splanada
pedi valsa e coquetéis :
levei bomba misturada
com silvos de cascavéis !
Ó cozinheiro do tempo,
se não aprendes mais nada,
serás um dia alimento
nos dentes de uma granada !
Fui ao grande hotel Paraíso
pedi néctar de bom gosto :
bebi sangue caldeado
com ódios em cada rosto.
Fui ao grande hotel do mundo
pedi para o visitar :
vi o povo lá no fundo
e a burguesia a reinar !
Ó cozinheiro do tempo,
se não aprendes mais nada,
serás um dia alimento
nos dentes de uma granada !
In CANTARES DE ABRIL