VAMOS BEBER JUNTOS O VENTO QUE NOS RESTA.
O arpão da lida decanta, encanta,
faz fogo do ar, do mar, de mim,
desapedra o medo, desafoga a dor,
é flor, é flor, amor.
O arpão que desmonta, afronta,
desmata as matas do coração, como não,
se diz presente, se faz ausente, como sente,
faz o tempo se ver menino, sol a pino, amor.
O gosto dourado do gozo se faz alvoroço,
tira a máscara, tira a pimenta, inventa,
mostra que dentro da fronha tem desejo,
mostra que dentro do desejo tem gostar,
tem gostar, meu amor.
O fardo que teimava em sacudir, cadê,
o musgo que tentava traduzir, você,
o oco que podia esquartejar, revolta,
o pouco que teimava em saciar, mulher,
me solta, me solta.
Então vamos nas caladas virgens dos céus,
como ciganos acenos que nem digo mais,
nem digo mais, nem ligo mais,
pega tuas peles, teus peitos, tuas vértebras de rapina,
pega tuas vidas, teus conceitos, tua luz de lamparina,
e vai-te de mim, vai-te de mim.
Agora que o pleito já nem pede mais perdão,
agora que virou cicatriz o gosto do irmão,
agora que vazou a tina que entornava o não,
que entornava o não, meu amor.
Vamos juntos acabar essa festa,
vamos juntos destravar esta fresta,
vamos juntos beber o tempo que nos resta,
vamos juntos desfazer o que não presta,
o que não presta, meu amor.
Porque o vento ficou mais cego, digo sim não nego,
o gosto se passou dos limites, enfim,
o que tinha que ser, renasceu em mim,
renasceu em mim, meu amor.
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