Diabruras do tempo.
Quando o tempo despenca feito fruta que foge do pé
se faz gingueiro, meio forasteiro, meio arteiro,
fica ensombrado sem desculpa nem perdão.
Quando o tempo pouco escuta e faz desforra
desatarracha os medos sem medo de machucar,
vira estorvo, vira morto, vira redenção.
Quando o tempo abre suas ranhuras com furor
esquece seus fechos, seus aterros, seus filhotes,
fica monge atado a outro coração.
Quando o tempo se espelha endiabrado
como pétalas fétidas numa alça frouxa de caixão,
como se o pecado não tivesse eco nem formão.
Quando o tempo foge rouco das amarras que lhe puseram de pé
espia pelas frestas da vida o que poderia emergir,
para fazer boiar no seu sangue as querelas mimadas da fé.
Quando o tempo não mais for tempo, nem alento,
quando quiser se furtar de sorrir, de amar, de imantar novas almas
será a sua vez de fincar no sonho as diabruras mais rentes que ousar merecer,
então, como por encanto, ou desmando,
levantará as suas presilhas enferrujadas aos céus como lastro,
então, por certo, saberá a que veio.
E a quem veio.
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