Estilingue.

Quando descobri o amor fiquei desarmado,

desmamado, desafalcado de medos.

Fui de olhos vendados pra onde o vento assoprasse,

pra onde o sangue seguisse,

pra onde Deus quisesse,

virei barco à deriva no meu próprio suor.

Flagrei dentro de mim outros atalhos,

também outros espinhos,

varandei minha alma sem dó.

De repente estava menino de novo,

garoto louco por uma bola, um teco de pão,

um sorriso maroto da vizinha,

os cabelos brancos sairam de fininho,

um atrás do outro.

Chamei pela minha cria, pelos meus ecos vazios,

chamei pelos meus musgos, nada no front,

chamei pelos meus passos, só engatinhei,

só engatinhei.

Cadê as louças, cadê o telhado, cade os bichos?

O amor veio com tal fúria que o tempo pediu tempo,

chegou com tamanha fome que o sol se escondeu,

chegou com tanta munição que o mar colocou o rabo entre as pernas

e foi dormir pra sempre.

Como por encanto todo aquele porre que se chama paixão

se fez chão, se fez porão, se fez estilingue,

o sangue que estava a mil surtou

as flores que exalavam os desejos ajoelharam em fila única

a ferida que teimava em parir debandou de vez

então fomos de mãos dadas viver o que restou da gente.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 29/04/2011
Reeditado em 29/04/2011
Código do texto: T2937788
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