De cabeça pra baixo sem dó.
O ciúme tem mil gumes,
mil faces, mil enlaces.
Começa mansinho na carona de um bocejo
e acaba virando um monstro que ninguém segura mais,
ninguém segura mais.
Suas garras são afiadas, aladas, imantadas,
chegam até nos confins mais confins da gente, e pior,
vão derrubando valores, vão detonando amores,
deixam tudo de cabeça pra baixo sem dó,
sem dó.
O ciúme tem bem mais letras do que parece,
muitas vezes é o tempero que mais apetece,
outras vezes é a sentença de morte pra vida a dois,
e isso nunca deixa pra depois,
isso nunca deixa pra depois.
Sabe lá de onde veio, sabe lá onde nasceu,
talvez tenha sido um capricho que o Criador deixou de lado,
talvez tenha sido um quesito que o capeta dissimulou e guardou,
talvez tenha sido a pedra nos nossos sapatos que nunca
jogaremos fora,
nunca jogaremos fora.
O ciúme fala por si, tem vida própria e alma forte,
quando chega todas as paixões se curvam com respeito,
quando vai embora todos os sonhos começam a bailar sem parar,
e assim vai calandrando os desejos até ficarem como têm que ficar,
como têm que ficar.
Então, missão cumprida e doída, emerge dos nossos porões,
e volta pra sua casa com o peito cravejado de medalhas,
esquece que sempre transformou o amor em migalhas,
esquece que imantou com seu cheiro podre e frio tantos corações,
tantos corações.
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