Desnudando a alma do poeta.
A alma do poeta engana, esgana, engasga,
faz a voz ficar amena, faz a saudade ficar pequena,
faz o tempo cantarolar, virar enxame,
virar enxame.
A alma da poeta tem mil fagulhas, é pontiaguda, áspera,
esconde segredos que ela mesma desconhece,
abriga medos que ela mesma tece, ela mesma tece.
A alma do poeta adora cavalgar sem destino, sem cabresto,
esquece o caminho de casa, despreza o sim, o não,
adora brincar com nossos desejos como se tivesse todos na sua mão.
A alma do poeta é capeta, deixa Deus arretado,
faz bagunça nas veias, confunde nossas saídas,
deixa nossa vida com cara das noites mal dormidas.
A alma do poeta precisa de calma para flutuar,
tem que se atar às vozes do silêncio para se fazer forte,
o tremor, os gritos, é a sua ferrugem, a sua morte,
precisa do tudo no nada para acordar, para acordar.
A alma do poeta nunca trai quem dá o pão,
é capaz de doar seu pulmão para alguém respirar se for preciso,
não treme se tiver que morrer pra resgatar um sorriso,
pra resgatar só um sorriso.
A alma do poeta nunca empaca, nem congestiona,
suas garras nunca serão aparadas, nem apartadas,
quando não quer andar não adianta, não funciona,
suas portas não se abrem e também nunca se fecharão,
todos seus órgãos têm único formato, do coração.
Muitos quiseram escutar o que ela diz, tentativa oca,
tantos tentaram seguir seus rastros, nada feito,
outros passaram a vida toda querendo ser do seu jeito,
acabaram abandonados numa vala seca, rouca,
numa vala seca, louca.
A alma do poeta não pede licença, nem busca o perdão,
ela só cumpre sua sina, faz isso à exaustão, à exaustão,
quando for descansar pegará sua trouxa e cairá no mundo,
quem tiver por perto vai entender tudo num segundo,
vai entender tudo num segundo.
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