Desnudando a alma do poeta.

A alma do poeta engana, esgana, engasga,

faz a voz ficar amena, faz a saudade ficar pequena,

faz o tempo cantarolar, virar enxame,

virar enxame.

A alma da poeta tem mil fagulhas, é pontiaguda, áspera,

esconde segredos que ela mesma desconhece,

abriga medos que ela mesma tece, ela mesma tece.

A alma do poeta adora cavalgar sem destino, sem cabresto,

esquece o caminho de casa, despreza o sim, o não,

adora brincar com nossos desejos como se tivesse todos na sua mão.

A alma do poeta é capeta, deixa Deus arretado,

faz bagunça nas veias, confunde nossas saídas,

deixa nossa vida com cara das noites mal dormidas.

A alma do poeta precisa de calma para flutuar,

tem que se atar às vozes do silêncio para se fazer forte,

o tremor, os gritos, é a sua ferrugem, a sua morte,

precisa do tudo no nada para acordar, para acordar.

A alma do poeta nunca trai quem dá o pão,

é capaz de doar seu pulmão para alguém respirar se for preciso,

não treme se tiver que morrer pra resgatar um sorriso,

pra resgatar só um sorriso.

A alma do poeta nunca empaca, nem congestiona,

suas garras nunca serão aparadas, nem apartadas,

quando não quer andar não adianta, não funciona,

suas portas não se abrem e também nunca se fecharão,

todos seus órgãos têm único formato, do coração.

Muitos quiseram escutar o que ela diz, tentativa oca,

tantos tentaram seguir seus rastros, nada feito,

outros passaram a vida toda querendo ser do seu jeito,

acabaram abandonados numa vala seca, rouca,

numa vala seca, louca.

A alma do poeta não pede licença, nem busca o perdão,

ela só cumpre sua sina, faz isso à exaustão, à exaustão,

quando for descansar pegará sua trouxa e cairá no mundo,

quem tiver por perto vai entender tudo num segundo,

vai entender tudo num segundo.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 20/04/2011
Reeditado em 22/04/2011
Código do texto: T2919715
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