SAMBAS DE TERREIRO
(Abaixo, trechos do extenso texto "CASA POBRE EM VILA RICA", publicado nos sites OVERMUNDO e também no PT.NETLOG, que aborda minha iniciação enquanto compositor e letrista:)
SAMBAS DE TERREIRO
O VILA RICA e seus magníficos compositores influenciaram minhas primeiras produções na área da Música e, adiante, me tornei fã de sambistas renomados -- Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Clementina de Jesus, entre tantos outros e outras, Elza Soares principalmente -- sem esquecer os nomes e as composições dos principais sambistas (do Bloco) dos primeiros dias dos coloridos e roqueiros anos 70.
Entre os compositores mais importantes estavam Luis "Chimbirra" (não sei se era sobrenome ou apelido), o velho e respeitado "Jorge Ben e até o "tampinha" "Segunda-Feira" -- "sombra" do malandro mais temido da área, o 'Marocas" --que subia no palanquinho de metro e meio de largura para entoar exatos 6 versos:
"Numa alta madrugada
eu encontrei o meu amor...
o sereno estava caindo (pois é, pois é!)
e o sereno não me molhou.
E lá vinha o refrão simples e belo, repetido diversas vezes e levantando a multidão:
"É mais uma madrugada
que eu passei com meu amor!"
De "Jorge Ben", voz ímpar, sem igual na região, algo próximo do famoso Aniceto do Império, só me lembro do "Subindo a Ladeira", cujos primeiros versos estampei em meu texto sobre as agruras de se viver num Morro, o 'UM DIA EM LILLIPUT", postado no megasite cultural OVERMUNDO, que pode ser consultado pelo link:
www.overmundo.com.br/banco/um-dia-em-lilliput
Jamais mostrei meus "sambinhas" para quem quer que fosse e admirava o pai da Sandra -- minha bela vizinha, amiga de infância -- conhecido por "Pauzinho" que, com uma lata d'água sobre a perna, passava horas cantando seus sambas, acompanhado do amigo e vizinho, seu "Bené", batendo copo ou 2 colheres.
Infelizmente, recentemente a esperança me abandonou e cansado de sonhar em ver meus trabalhos sendo cantados (ou até gravados), toquei fogo em tudo. Viraram cinzas mais de 600 poemas (entre trovas, sonetos, cordel e poesia livre) e pelo menos umas CEM MÚSICAS, entre elas uns 30 sambas, boa parte em homenagem ao bloco Vila Rica, inclusive um samba-enredo sobre os vikings e a pedra da Gávea, cujo título era "A Cabeça do Imperador"!.
Sobrou na memória senil o que está abaixo, trechos de "sambas de terreiro", CURTINHOS como devem ser, já que ficam "na fila" para cantar até a alta madrugada uns 15 ou 20 compositores, nas grandes Escolas de Samba até mais do que isso. Aí vão:
Vamos cantar
para tod'as regiões
as mais lindas canções
que o povo quer ouvir
e nosso samba
que é todo harmonia,
alegria e fantasia,
vai o povo seduzir.
(refrão/BIS)
Vamos cantar,
ó moçada brasileira.
Vamos sambar,
juventude altaneira,
que o VILA RICA
vai tocar a noite inteira...
que o VILA RICA
vai sambar a noite inteira.
"NATO" AZEVEDO
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(refrão/BIS)
Vem lua, eh, vai lua, ah...
nêgo no batuque
não para de batucar.
I
Nossa bateria
está botando "prá quebrar".
É samba, show e alegria,
o VILA não pode parar.
"NATO" AZEVEDO
(CONTINUA...
esqueci o resto da música)
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Surdo, cuíca e pandeiro
pela noite a batucar...
é o "samba de terreiro",
a chuva caindo devagar.
É o VILA RICA quem diz:
"nosso samba não pode parar"!
E eu me sinto feliz
em dele participar.
(refrão/BIS)
Samba, show e alegria
o VILA RICA tem...
mas ritmo e harmonia
é importante também !
"NATO" AZEVEDO
No texto citado acima, UM DIA EM LILLIPUT, comento como era dificil a subida do Morro, numa viela escura e cheia de mato e lixo, entre dois prédios próximos da entrada do Túnel Velho. Fechado esse "atalho', passaram-se vários anos até que uma alma bondosa cedesse a escadaria que dava acesso à seu casarão, "na boca do Túnel", facilitando (?!) a vida dos favelados, que escalavam uma perigosa escada de madeira, com uns 70 graus de inclinação, num permamente riso de acidentes, principalmente de milheres com enormes trouxas de roupa na cabeça. Torno a repetí-lo, porque no site/portal anterior o artigo saiu truncado por falta de espaço, essa questão de toques que nunca entendi direito.
"NATO" AZEVEDO (dezembro/2009)
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O SUPREMO EMBLEMA
"Para quem vai...
para quem vai, para quem fica
eu vou citar
UNIDOS DA VILA RICA" !
(autor ignorado / samba-enredo)
"Oh, Vila, / eu trago aqui / sua homenagem..." assim começa um dos belos sambas que animavam as noites de sábado na quadra de terra que ficava ao lado de nosso barraco, no Morro dos Cabritos. Curiosamente, o samba era mais animado (e mais cheio) aos sábados, a véspera de mais um dia de trabalho duro deixava o pessoal sem muita disposição para alegrias.
Já para nós era impossível dormir... a Bateria de mais de 20 instrumentos se postava pelo "lado do Túnel Velho", próximo de um valão e da única "birosca" (ou bodega) de toda a redondeza. Situada ao lado do valão infecto -- jorrando água negra o ano inteiro -- com o balcão de madeira preta que nunca vira água nem sabão, o "comércio" era um nojo. Raramente eu comprava algo lá, preferia andar bem mais e subir rua acima, para comprar num outro mercadinho, um pouco depois do famoso "Ninho das Cobras".
Voltando ao Bloco, no fim da noite, lá pelas 3 "da matina" a Bateria "passeava" pela quadra toda e vinha estacionar debaixo de nossa janela, um rugido ensurdecedor fazendo vibrar o telhado de zinco, plástico e papelão. Nunca soube quem dirigia a Bateria mas, num domingo de 1973 ou 74 de tarde, tive o prazer de tocar um dos instrumentos. A garotada estava tendo aulas de percussão e, num dos intervalos do treino, me meti entre êles e "zabumbei" um surdão qualquer por 4 ou 5 minutos. É uma emoção indescritível tocar um instrumento numa Escola de Samba, qualquer uma. Se o ritmo mexe conosco apenas assistindo, tê-lo "dentro de si" é a glória.
Estranhamente, não lembro de um só cantor ou compositor branco no BCUVR dos anos 70... mas eram todos poetas de primeira, capazes de cantar "o supremo emblema da nossa Nação" sem gaguejar nem errar a letra, "pobrema" muito comum hoje em dia.
Minha maior frustração foi jamais ter tido coragem de me apresentar -- como compositor, pelo menos -- ao Bloco "amarelo/azul pavão... o Vila Rica querido do meu coração". Enquanto escritor tinha eu imensa admiração por letras de samba (de enredo?) como o "Quanta beleza / tem a Guanabara... / se eu pudesse / ter, para mim, / essa jóia rara. / Leva com você, oh Vila Rica / essa minha inspiração... (etc)".
Outra obra magistral, da qual ignoro o Autor, é o belo samba:
"Tenho o coração empedernido
pelo muito que tenho sofrido,
não suporto sofrer tanto assim...
Deus, por favor, tenha pé de mim!
As minhas penas vou pagar
e a minha vida vou mudar.
Triste é viver sem amor,
meu castigo é tão grande,
é tamanha a minha dor"!
(BCUVR - autor ignorado)
GENIAL, não é mesmo?! Quem poderia recuperar essas jóias e, quem sabe, até GRAVÁ-LAS? Mas aqueles 1.500 m2 de terra batida não viviam só de música, não. Ao cair da noite a malandragem da época (entre entre 1970 até 76) se reunia sobre uma imensa pedra negra, bem debaixo de nosso barraco, para "fumar um baseado" e contar um bocado de "estórias" cabeludas. Duas ou 3 vezes por ano aparecia de madrugada "os home", a temida Policia Civil. A turma descia a encosta íngreme aos saltos, na escuridão, e os "meganhas" ficavam na quadra por um bom tempo, dando tiros em direção aos edificios lá embaixo e rindo às gargalhadas.
Adiante, o Bloco inteiro sairia do terreno de terra para a recém criada Creche, na parte de cima da Rua Euclides da Rocha, suponho que por volta de 1976 ou 77. Voltamos a ter sossego em casa, mas eu nunca mais assisti a um ensaio do admirado Bloco, minha inspiração por muitos anos. A seguir, trechos do restou de sambas meus, nascidos a partir de minha vivência ao lado do Bloco UNIDOS DA VILA RICA, na época com um L só! "NATO" AZEVEDO (escritor e poeta)