Toldo Da Morte

Certa vez,

sentado abaixo do toldo de um bar em esquina incerta,

dedilhando "O Canto de Ossanha" em uma tentativa infértil de imitar o pai Baden, ela chegou.

Olhei furtivamente, porém ela, como outra mulher agente da Abin como todas o são, pegou no ar e indagou?

-Gosta de bossa meu bem?

Cocei a nuca e pensei no que Vinicius, o diplomata, faria. Inspirei fundissímo e soltei;

-Porque não dá uma sentadinha e toma uma cervejinha comigo?

Com um arregalar de seus olhos verdes com paisagem me denunciou;

- Este toldo está condenado, poderá cair a qualquer momento, não sabe?

Dei um arregalar de uns olhos que não são nem castanhos e muito pouco negros, olhos indefinidos, olhos de poeta;

- Sei, porém eu devo estar onde a bossa está, mas quem é vc?

Pequenas ondinhas na testa procuravam me ajudar a compreender a pergunta como retórica, não deu certo e ela suspirou antes falar;

- Eu sou a música atual, não tenho a beleza interna da bossa, mas o povão ama minha carcaça.

Sem mais me deu de ombros e se foi.

Segui no dedilhado, o toldo rangendo era a percussão:

"Vai vai vai vai não vou......................"

Ozzy
Enviado por Ozzy em 09/02/2011
Reeditado em 09/02/2011
Código do texto: T2781711
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