Rio de Algodão

RIO DE ALGODÃO

Solidário ao órfão de pai/mãe,

Ao choro que rega todas as dores,

Ao lado escuro da lua crescente,

Ao cego que sente falta das cores.

Às flores amputadas do botão;

A outras que secam antes do corte,

Privando roseira-mãe da má sorte,

Nasce assim um rio de algodão.

Leito e manancial: coração.

Seu curso seguirá qualquer um norte.

Rio de Algodão! Rio de algodão!

Na brisa do rio de algodão

Voam serenas folhas de lembrança

E a esperança tecendo o cordão

Umbilical da nascente criança.

Nas águas macias, cheiro de paz,

Gosto de vida e textura de neve.

O tempo não conta. O vento é leve.

Pobreza, riqueza, lá tanto faz!

Filho de trovão, por certo, capaz

De mudar seu curso num raio breve.

Rio de Algodão! Rio de algodão!

Solidário a si, enquanto se finda

Calado, ao encontro do mar profundo.

Sua lama dissolve com fé, ainda,

Algemas tiradas das mãos do mundo.

Velado de brio e de transparência

Arrasta razões até ser notado

E o anzol da maldade, ora quebrado.

Refresca corredeiras da inocência.

Jamais pretende pra si a demência

De no mar solver-se, aniquilado.

Porque no leve rio de algodão

Os peixes são capuchos amorosos;

As aves são almas de outros rios;

Os golfos são retalhos calorosos.

Quando a frieza da morte chegar,

Ondas nem sal lhe trarão “finitude”.

Tal baronesas flutuam no açude,

Flutuaria nas ondas do mar!

Flutuaria nas ondas do mar!

Flutuaria nas ondas do mar!

Rio de Algodão! Rio de algodão!

Laécio Beethoven
Enviado por Laécio Beethoven em 29/11/2010
Código do texto: T2644295