DANÇA DA CELA
DANÇA DA CELA
em outros tempos
ser peão foi desafio
ver boiada em vau de rio;
pisar lama e pó na estrada
Encilho o cavalo como antigamente
e toco o berrante matando a saudade
até quando eu nem sei.
A mágoa é tanta, veja minha gente,
surgiu o asfalto que leva à cidade.
É o progresso; essa é a lei.
Batuca no asfalto o casco ferrado
marcando a cadência de uma cantiga
masca o freio o alazão
levanta a cabeça e sopra alarmado
não vê a boiada tão sua amiga;
pura mágoa é o sertão.
O boi fujão
se apartava da boiada
dentro da mata fechada
só se ouvia o tropel
o bom peão
segurando o santo antônio
perseguia o demônio
montado no seu corcel.
A carreta que passa levando seu frete
carrega pro abate a carga sofrida
da boiada do patrão.
O cavalo marchando balança o ginete
que faz na ideia o balanço da vida
soluçando uma canção.
Estou preso no rancho, chorando meus ais,
Pra ganhar o dinheiro que é meu sustento.
Cuido as vacas do patrão.
Tocar a boiada eu não volto mais
A saudade é grande; é puro lamento,
Perdi a fama de peão.