CHÃO BATIDO
(verídico)
Quando olhei pra cima quase desmaiei diante de tanta beleza...
O céu que outrora era escuro e envelhecido,
agora resplandecia em beleza branca, cor de recomeço.
(Como se fazia com os pergaminhos para reiniciar a historia).
Meus avós contavam... Na roda do chimarrão.
A princípio não acreditei em tamanha transformação.
Clareava o dia... Só a natureza gemia. E eu não entendia...
Pensei estar ainda dormente e me espreguicei.
O ar embalsamado de tinta me fez tossir.
Após minutos entre parênteses, interrogações e
o franzir da testa, é que conclui estar acordado.
O céu realmente estava límpido cor de anil.
Foi então que meu sorriso se expandiu...
Tal qual o arco-íris de ponta a ponta.
Medi cada centímetro do teto... Delineei cada canto,
Calculei cada lâmpada... Contei uma a uma.
Estavam todas emparelhadas, vestidas para festa.
Parafuso impar e mais a frente se transformava em par.
Invernada distribuída em alas, prontas pra dançar...
Vestidas de prenda e peão...
Outros mateando aqui e acolá... Todos os noivos de branco.
E no meio do alvoroço... Meu sorriso se apagou de repente.
No meio do deslumbre meus olhos caíram sobre mim mesmo...
Somente eu estava vestido de preto...
Encardido, cheio de vestígios... Cicatrizes aqui e acolá.
Arranhado de salto alto, riscado de bota e espora...
Foi ai que literalmente acordei. O próximo seria eu...
Meus braços e pernas provavelmente seriam retirados dali.
Eu não estava combinando em nada com o teto que vi...
Pra dizer a verdade, depois de todo aquele luxo...
Nem sei como décadas sobrevivi...
Gaúchos e tradicionalistas continuaram bailando... Proseando.
Por isso os casais enamorados nem olhavam pra mim !!!
Ficavam olhando pro céu... Como se ali fosse o sonho almejado...
Ansiado em ser emoldurado, querendo ser realizado...
Deve ser por isso que foi o primeiro a ser renovado...
Haviam se esquecido de mim.
Velho chão batido, forrado de puro chão de madeira
Retirado do Velho Casarão de meu pai Teixerinha.
Feito pra carregar o balanço de casais apaixonados.
Quantos namoros ali vi...
Muitos dos quais até casamento vivi
Tudo cochichado no ouvido,
que o próprio pai e mãe nem ouviu...
E agora... O que vai ser de mim?
Velho chão batido carregando histórias mil.
Será que vão me jogar fora igual a tantos sonhos não realizados?
Pois em meu corpo já não cabe mais verniz...
Ou vão me colocar no museu da história
Para contar o que vivi... Não conto nada não...
Foram segredos que caíram no chão,
E que por um acaso colhi.
Por isso nascido e criado gaúcho,
chão matuto velho de verniz,
E que faço um último pedido,
Ao patrão que me ouve mesmo sem ouvir...
Quando me arrancarem faça bem devagar,
para que o novo teto espelhado,
não reflita a imagem em mim...
(verídico)
Quando olhei pra cima quase desmaiei diante de tanta beleza...
O céu que outrora era escuro e envelhecido,
agora resplandecia em beleza branca, cor de recomeço.
(Como se fazia com os pergaminhos para reiniciar a historia).
Meus avós contavam... Na roda do chimarrão.
A princípio não acreditei em tamanha transformação.
Clareava o dia... Só a natureza gemia. E eu não entendia...
Pensei estar ainda dormente e me espreguicei.
O ar embalsamado de tinta me fez tossir.
Após minutos entre parênteses, interrogações e
o franzir da testa, é que conclui estar acordado.
O céu realmente estava límpido cor de anil.
Foi então que meu sorriso se expandiu...
Tal qual o arco-íris de ponta a ponta.
Medi cada centímetro do teto... Delineei cada canto,
Calculei cada lâmpada... Contei uma a uma.
Estavam todas emparelhadas, vestidas para festa.
Parafuso impar e mais a frente se transformava em par.
Invernada distribuída em alas, prontas pra dançar...
Vestidas de prenda e peão...
Outros mateando aqui e acolá... Todos os noivos de branco.
E no meio do alvoroço... Meu sorriso se apagou de repente.
No meio do deslumbre meus olhos caíram sobre mim mesmo...
Somente eu estava vestido de preto...
Encardido, cheio de vestígios... Cicatrizes aqui e acolá.
Arranhado de salto alto, riscado de bota e espora...
Foi ai que literalmente acordei. O próximo seria eu...
Meus braços e pernas provavelmente seriam retirados dali.
Eu não estava combinando em nada com o teto que vi...
Pra dizer a verdade, depois de todo aquele luxo...
Nem sei como décadas sobrevivi...
Gaúchos e tradicionalistas continuaram bailando... Proseando.
Por isso os casais enamorados nem olhavam pra mim !!!
Ficavam olhando pro céu... Como se ali fosse o sonho almejado...
Ansiado em ser emoldurado, querendo ser realizado...
Deve ser por isso que foi o primeiro a ser renovado...
Haviam se esquecido de mim.
Velho chão batido, forrado de puro chão de madeira
Retirado do Velho Casarão de meu pai Teixerinha.
Feito pra carregar o balanço de casais apaixonados.
Quantos namoros ali vi...
Muitos dos quais até casamento vivi
Tudo cochichado no ouvido,
que o próprio pai e mãe nem ouviu...
E agora... O que vai ser de mim?
Velho chão batido carregando histórias mil.
Será que vão me jogar fora igual a tantos sonhos não realizados?
Pois em meu corpo já não cabe mais verniz...
Ou vão me colocar no museu da história
Para contar o que vivi... Não conto nada não...
Foram segredos que caíram no chão,
E que por um acaso colhi.
Por isso nascido e criado gaúcho,
chão matuto velho de verniz,
E que faço um último pedido,
Ao patrão que me ouve mesmo sem ouvir...
Quando me arrancarem faça bem devagar,
para que o novo teto espelhado,
não reflita a imagem em mim...