A Ironia do Boêmio
Estou desaprendendo as letras
Pra não formar mais nenhuma palavra
Estou fugindo das músicas e livros
Pra me auto-segregar de vez fora de casa
Não sinto mais prazer com vinho
Nem encontro calma no que trago
O encanto sumiu dos olhos
A beleza se deteriorou nos quadros
O horizonte outrora colorido
Hoje tão monocromático
As certezas que eu tinha
Eram só boatos
Contrai desdém pelo meu trabalho
Descobri que o amor é demasiadamente falho
E por isso devolvi a aliança rompendo o meu noivado
Pois fidelidade é só uma palavra que faz volume no dicionário
Como ética e bom-senso por ninguém utilizados
Hipocrisia e cultura mercadoria do mesmo saco
Por isso que o caos é tão fundamentado
Os ciclos são longos
Intensamente atrofiados
As leis não fomentam
A desventura dos injustiçados
E é por isso que estou mudo
Faz muitos anos que não falo
Eu perdi o perigo e não canto
Não canto porque não sou ameaçado
Eu não sei o que eles fizeram
Nem a técnica que utilizaram
Mas de algo tenho certeza
Que pra política e pro comércio ela é muito viável
Bilhões de cérebros acorrentados
Bilhões de cérebros manipulados
Bilhões de cérebros que pelos seus hospedeiros nunca foram utilizados
E é por isso que estou mudo
Faz muitos anos que não falo
Pois pensar por si mesmo estar
Entre a linha que interliga o abismo
Daquilo que é extinto do que é realmente raro.
E é por isso que estou mudo
Faz muito tempo que não falo
Eu estou desaprendendo
Porque não fui domesticado
Meu bom Senhor.