A Ironia do Boêmio

Estou desaprendendo as letras

Pra não formar mais nenhuma palavra

Estou fugindo das músicas e livros

Pra me auto-segregar de vez fora de casa

Não sinto mais prazer com vinho

Nem encontro calma no que trago

O encanto sumiu dos olhos

A beleza se deteriorou nos quadros

O horizonte outrora colorido

Hoje tão monocromático

As certezas que eu tinha

Eram só boatos

Contrai desdém pelo meu trabalho

Descobri que o amor é demasiadamente falho

E por isso devolvi a aliança rompendo o meu noivado

Pois fidelidade é só uma palavra que faz volume no dicionário

Como ética e bom-senso por ninguém utilizados

Hipocrisia e cultura mercadoria do mesmo saco

Por isso que o caos é tão fundamentado

Os ciclos são longos

Intensamente atrofiados

As leis não fomentam

A desventura dos injustiçados

E é por isso que estou mudo

Faz muitos anos que não falo

Eu perdi o perigo e não canto

Não canto porque não sou ameaçado

Eu não sei o que eles fizeram

Nem a técnica que utilizaram

Mas de algo tenho certeza

Que pra política e pro comércio ela é muito viável

Bilhões de cérebros acorrentados

Bilhões de cérebros manipulados

Bilhões de cérebros que pelos seus hospedeiros nunca foram utilizados

E é por isso que estou mudo

Faz muitos anos que não falo

Pois pensar por si mesmo estar

Entre a linha que interliga o abismo

Daquilo que é extinto do que é realmente raro.

E é por isso que estou mudo

Faz muito tempo que não falo

Eu estou desaprendendo

Porque não fui domesticado

Meu bom Senhor.

Site Franklin Mano
Enviado por Site Franklin Mano em 10/09/2010
Reeditado em 10/09/2010
Código do texto: T2490274
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