O CAVALO, O CAVALEIRO, O SERTÃO, O AMOR E A MORTE ou A LENDA DE DIADORIM
(recitativo)
O diabo está na rua no meio do redemoinho
O homem em seu conflito não sabe que está sozinho
O Grande Sertão: Veredas contado em versos e prosa
O cantador pede a bênção à mestre Guimarães Rosa
Trazendo a viola enfeitada com fitas e alecrim
Pra contar a lenda viva do valente Diadorim
(canto)
Caminho estreito, cavaleiro e montaria
Grande sertão, veredas, honra e valentia
Gatilho, mira, mão armada à carabina
Chapéu de couro, faca e espora na botina.
A morte espreita em meio aos buritizeiros
Tocaia ao sol, tiro de rifle, bandoleiros
Jagunço, bala, cartucheira e cinturão
Viver é muito perigoso no sertão.
Cabelo ao vento no nascer da alvorada
É Diadorim rompendo o dia em galopada
Lá no sertão onde é preciso ter coragem
Une-se ao bando para prosseguir viagem.
A tropa rasga no chapadão das Gerais
Juntos na marcha seguem homens e animais
O vento sopra nos ermos da pradaria
Sob o relincho dos cavalos nasce o dia.
Mas Diadorim perdido nos seus pensamentos
Sabe que o amor secreto fere sentimentos
Com ansiedade espera a hora da contenda
Porquê a esperança frágil não tem referenda.
Nos olhos verdes um olhar angustiado
Dentro do peito um coração atormentado
A guerra chama e o combate é pela vida
O bando luta e a batalha é vencida.
Mas a cartada final sempre é do destino
Que mostra a sorte como espelho cristalino
Um corpo cai depois de um tiro certeiro
É Diadorim sangrando no pó do terreiro.
A morte vem e nos impõe grande tristeza
Tirando a vida e revelando uma surpresa
O homem morre mas a lenda continua
E o povo leva sua história para a rua.