Ainda ontem (hier encore)
Ontem ainda eu tinha vinte anos
Acariciava o tempo e brincava de viver
Como se brinca de namorar.
Eu vivi intensamente, mas não o suficiente. Nunca é.
E vivia a noite sem considerar meus dias
Que escorriam no tempo.
Fiz tantos projetos que ficaram no ar.
Planejei e executei, mas não o suficiente. Nunca é.
Alimentei tantas esperanças que bateram asas
Que permaneço perdido sem saber aonde ir
Tive esperanças que se confirmaram, sonhos que se realizaram, mas não o suficiente. Nunca é.
Os olhos procurando o Céu mas, o coração posto na Terra
Ontem ainda eu tinha vinte anos
Desperdiçava o tempo acreditando que o fazia parar.
E muitas vez o tempo parou, mas não o suficiente. Nunca é.
E para retê-lo, e até ultrapassá-lo só fiz correr e me esfalfar
Ignorando o passado que conduz ao futuro.
E o tempo é uma cobra molhada que escapa entre as mãos. Sempre.
Precedia da palavra "eu" qualquer conversação
E opinava que eu queria o melhor
Por criticar o mundo com desenvoltura.
Minhas opiniões mudaram o meu mundo, mas não o suficiente. Nunca é.
Ontem ainda eu tinha vinte anos
Mas perdi meu tempo a cometer loucuras.
Arrependo-me das loucuras que não fiz, pois não foram suficientes. Nunca são.
O que não me deixa, no fundo nada é realmente concreto
Além de algumas rugas na fronte
E o medo do tédio.
Quero ter mais rugas, pois as que tenho são poucas para o que preciso ainda viver.
Porque meus amores morreram antes de existir
Meus amigos partiram e não mais retornarão.
Meus amores são vivos e meus amigos são tantos. E voltaram.
Por minha culpa criei o vazio em torno a mim
E gastei minha vida e meus anos de juventude
Do melhor e do pior descartando o melhor.
Eu enchi a minha vida de juventude e ,com isso, mantenho-me obrigado a ser jovem.
Imobilizei meus sorrisos e congelei meus choros
Onde estão agora meus vinte anos?
Em mais tres anos vou completar pela 3a. vez 20 anos, e está ficando cada vez melhor. Será que, se conseguir multiplicar por quatro e mais alguns como Monsieur Aznavour, vou mudar de ideia?
Essa letra da música que o Charles Aznavour cantou num programa de televisão com suas netas, é uma homenagem à minha amiga Hanid. O texto em itálico é um mero complemento pessoal.