A Peregrina
A Peregrina
Que figura é aquela, que longe vem
Traz uma boca banguela
E nos cabelos fogo tem
Veio como ou veio de onde
Veio de lugar nenhum
Carrega trouxas nos braços
E caminhas passo a passo
Seus pés mais parecem cascos
De tanto e tanto andar
Chega mais perto me assusto
Ao ver na face da dona
Aquela mesma amargura
Daquela mesma figura
Dos meus tempos de piá.
Eu lembro bem essa fase
Do pavor que tinha dela
E das artes que eu fazia
De algum adulto eu ouvia
Ä ¨ Santa¨ vem te pegar!
Eu tinha medo desta frágil indefesa
Nunca teve teto ou mesa, nem sei se sabe falar
Mas das lembranças que tinha
Recomponho a escultura
Sei que falta alguma coisa
Só não sei como explicar...
Já sei ,eu lembro do piá cabelo grande
Enganchado em sua cintura
Formando um estranho par.
Quando foi mesmo que dali ele pulou
Prá que banda enveredou
Será que achou outro lar?
E lá vai ela, esta meiga peregrina
E eu fico aqui
Não tremo ou corro prá dentro
Eu já cresci
E nada melhor que o tempo
E eu já vivi
Pra matar bicho papão!
E a dor fica e ficará
Fruto da hipocrisia
Ou de grande covardia
De não estender um dia
A esta mulher, minha mão.
E em nome da criançada
Corro atrás desta figura
Olha , não me reconhece...
Só resta pedir...perdão!