CARANGUEJO
Eu me chamo caranguejo,
Que nasceu na beira mar.
Leve pra lá sua sujeira,
Pois aqui é meu lugar.
Na sizígia da maré,
Fica tudo inundado,
Mas se a água for limpinha,
Fica tudo organizado.
A ciclagem da matéria,
Só aqui pode ocorrer,
Quando o homem põe a mão,
Bota tudo a perder,
Aterraram todo mangue,
De lixo encheram tudo,
Mataram o matagal.
Botaram cano de esgoto,
A água ficou preta,
Fedorenta como que,
Somente quem é cego,
Não vê isso acontecer.
Morreram os meus parentes,
Moluscos e vermes também.
As aves que aqui nidavam,
Mudaram prá mais além.
Agora vêm esses homens,
Dizendo que vão salvar,
Mas a área degradada,
Não dá pra recuperar.
Ainda que façam tudo,
Não dá para renascer,
A diversidade perdida,
Para sempre se perdeu.
A especulação,
Tomou o lugar da razão,
A ganância só vai parar,
No dia que se entender,
Que o pobre do dinheiro,
Não serve prá se comer...
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Rappy cantado durante a apresentação do RIMA (Relatório de Impacto do Meio Ambiente) na audiência pública para liberação da estrada “Via Mangue” a ser construída nos fragmentos de mangue da zona sul da cidade do Recife, onde foram apresentados os resultados dos estudos e das projeções estatísticas das perdas sócio-ambientais na charmosa e “indispensável” análise de CUSTO X BENEFÍCIO.
Ape$ar do$ argumento$ técnico$ contrário$ à execução da obra, a e$peculação venceu.