CÁLICE

Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue...(2x)

Como beber

Dessa bebida amarga

Tragar a dor

Engolir a labuta

Mesmo calada a boca

Resta o peito

Silêncio na cidade

Não se escuta

De que me vale

Ser filho da santa

Melhor seria

Ser filho da outra

Outra realidade

Menos morta

Tanta mentira

Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue...

Como é difícil

Acordar calado

Se na calada da noite

Eu me dano

Quero lançar

Um grito desumano

Que é uma maneira

De ser escutado

Esse silêncio todo

Me atordoa

Atordoado

Eu permaneço atento

Na arquibancada

Prá a qualquer momento

Ver emergir

O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue...

De muito gorda

A porca já não anda

(Cálice!)

De muito usada

A faca já não corta

Como é difícil

Pai, abrir a porta

(Cálice!)

Essa palavra

Presa na garganta

Esse pileque

Homérico no mundo

De que adianta

Ter boa vontade

Mesmo calado o peito

Resta a cuca

Dos bêbados

Do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo

Não seja pequeno

(Cálice!)

Nem seja a vida

Um fato consumado

(Cálice!)

Quero inventar

O meu próprio pecado

(Cálice!)

Quero morrer

Do meu próprio veneno

(Pai! Cálice!)

Quero perder de vez

Tua cabeça

(Cálice!)

Minha cabeça

Perder teu juízo

(Cálice!)

Quero cheirar fumaça

De óleo diesel

(Cálice!)

Me embriagar

Até que alguém me esqueça

(Cálice!)

Chico Buarque e Gil

Tomb
Enviado por Tomb em 28/05/2010
Código do texto: T2285747
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.