Acerto de contas
Pode ficar sossegado,
Ninguém vai perceber;
Só se der muita bandeira
É que vão olhar pra você.
Vou lhe pôr uns disfarces
Ou lhe tirar os que já tem;
Vão pensar que é coisa de artista,
Que você só existe na imaginação.
Não posso julgar os seus atos,
Não devo lhe dar punição;
Não tente, no entanto,
Impedir o meu canto,
Esse é o meu desabafo,
É o jeito que eu tenho
De fazer terapia
E lhe dar o perdão.
Quando eu cantar,
Se você sair, dou adeus,
Se dançar, eu aplaudo,
Tudo bem natural,
Mas se der certo esse canto
E o povo gostar,
Não venha dizer
Que me deu sofrimento e foi tema
Pra eu escrever.
Eu fiz a letra,
Um amigo, a melodia,
Nada é de sua autoria,
Deixe de ser abusado.
A vida ainda lhe ensina:
Alguém vai pisar no seu calo
Ou vai lhe dar muita alegria;
Então, se entender do riscado,
Pode escrever uma letra
Ou entrar com o tom e as notas
Depois uns arranjam e tocam,
Outro canta e apresenta.
E, se acontecer, aí, sim, você é compositor,
Pode até ser consagrado.
Por enquanto, meu caro,
Veja se desconfia,
Você quer viver encostado,
Mas não nasceu pra ser sombra
E ainda não é assombração.
Descubra o que sabe fazer,
Procure um emprego
E vá trabalhar no posto, no bosque,
No circo, no parque ou no espaço;
Tome seu rumo,
Que eu me cansei de você.
Não posso julgar os seus atos,
Não devo lhe dar punição;
Não tente, no entanto,
Impedir o meu canto,
Esse é o meu desabafo,
É o jeito que eu tenho
De fazer terapia
E lhe dar o perdão.