NOS TEMPOS DE GUEVARA
Apeio do meu cavalo em frente à velha porteira,
Lembro meu pai me dizendo..." Menino, do mundo
essa porta é a primeira..."
Lembro mamãe me dizendo..." Essa porta aberta
Estará a vida inteira..."
Meus olhos como dois rios navegam minhas lembranças,
Mergulho meu rosto envelhecido no tempo em que era criança,
Descanso a saudade ao pés do ipê-roxo e lanço meu coração
até onde a vista alcança...
Eu já não sou a gentil primavera,
O mundo me deu uma jaula, uma fera,
Um cofre de banco, um mapa em branco
Pra desenhar meu destino chão...
Riscos, traços, tramas, trilhas, sonhos em pedaços
Como nuvens sobre a América do Sul...
Rios, cordilheiras, avenidas, motocicletas,
Loucas feridas dentro dos olhos
Do menino sonhador...
De tempos em tempos suspiros no vento
tremulam a linha do Equador...
Estranha vontade de acordar a saudade
De um grande amor...
Pablitos, Teresas, Carlitos conversam
na sala e um homem no corredor
Já sabe o que tem do outro lado,
Conhece o bailado, o vinho da dor.
Um broche engastado no peito,
De amores perfeitos um coração
Cantando às ilhas perdidas
Palavras que brilham na escuridão...
Manhãs acordando seus filhos
Calados, sentidos, espelhos sem cor,
Se lembrem que os pés que caminham
Atravessam a linha do torpor.
Tempos de Guevara, tempos de anunciação,
O homem que chega à praia desembarca
Seus sonhos no chão...
Tempos de Guevara, tempos de ajuntação,
as ilhas perdidas esperam
A força do seu coração.
Preto Moreno
Lançada no meu CD. "COM O COMBUSTÍVEL QUE RESTA" - 2005