«TOADA PARA MELODIA»

Tanto quis decifrar-te,

ainda poder ler

tuas contradições, mas não.

Não é te censurar,

porém meu coração

botou-me à contramão,

a ver navios, sem nem mar.

E foste te doar

a pífio dom-joão,

sequer sem meditar?

Perdoa por não me deter

ao que vai para além

de um lapso da razão.

Não leva a sério, não.

Eu venho à tua porta,

e até sem permissão,

sem pedra de atirar,

que mão a gente corta.

Mais cedo vim à vida

e, por secas e mecas,

fazendo-me covarde,

a ti cheguei tão tarde.

Ninguém, então, agora,

que berre o seu alarde,

vai saber ditar a hora

ou gritar o instante

de quando a paixão

nasce em um ou arde

em tal e qual amante,

em tal e qual coração.

Assim é que te quis,

e quero, sem lero-lero,

feliz ou infeliz,

ao vau da vida inteira:

amiga, amada, amante,

cúmplice, companheira...

... pois, para renascer,

até que eu bem te guarde,

com todo o meu querer,

para ressuscitar-me,

será que já vim tarde?

Fort., 06/06/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 06/06/2009
Código do texto: T1634677
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