Lágrimas do Sol
Falado:
"É, mais um dia na favela
Parecia tudo normal
O pagode rolando
A mulherada sambando
A pivetada no futebol
Mas de repente tudo mudou
Ao primeiro rojão
Todo mundo com o cú na mão
Olha o que virou"
Lágrimas do sol
O céu se fechou
É fogo na favela
Corre, acende vela
Reza
Polícia aqui chegou
Ouço mil disparos, nada raros
Sinto calafrio
Puta que pariu
Isso é o horror
Sobem atirando para todo lado
Fico indignado
Mas o que fazer?
Pegam uma criança como escudo
Fico mudo
Nada pra dizer
Arastam o inocente de joelhos
Pelos cabelos
Puro prazer
Agora é só um corpo na esquina
Lá vem chacina
Meu Deus, por quê?
Ah! Gambezada do cão
Acham que na favela só tem puta e ladrão
Mas não olham pro seus rabos
Sua mãe e seu irmão
Sei que na favela a vida é dura
Falta mistura
Leite e pão
Mas o povo aqui é diferente
Batalha, vai em frente
Nem sempre arma na mão
O povo na favela é companheiro
E não vive num chiqueiro
Chamado corrupção
Será que então é lá no morro
O melhor lugar pra se encontrar ladrão?
Não, não, acho que não
Na favela a coisa é rara
É olho no olho
Cara à cara
Aperto de mão
Na favela o que vale é a palavra
Pra homem ser considerado "cabra"
É preciso honrar os grãos
Queria que o mundo acabasse
E que Deus enfim levasse
Nossos manos lá pro céu
Pois lá é que não existe diferença
Valor ou crença
Nem ganância por papel
Mas meu devaneio, enfim, acaba
Ao meu lado um "João" desaba
Foi "pra casa do chapéu"
Esse era só no sacrifício
Pra sustentar seu próprio vício
Na madruga assava pão
Morreu com a entrada na carteira
Pra domingo depois da feira
Ver o show do coringão
É, essa vida é engraçada
Morre-se por nada
Chamado de ladrão
É, essa vida é uma roubada
Só pessoa engravatada
É chamada de patrão
Patrão, puta que o pariu
Fodem o Brasil
E o povo acha bom
Ah! Se é comigo o couro come
Me enterram sem um nome
Por qualquer vacilação
Me chutam
Chamam de indigente
Porque pobre só é gente
Em dia de eleição
Pra elite pobre só é gente
Pra limpar o seu "rabão"
Pedreiro, doméstica, pra eles tudo a mesma bosta
Direito de resposta
É coisa de cuzão
Vamos hastear essa bandeira
Elite brasileira
Não manda no povão
Vamos colocá-los de joelhos
Puxar pelos cabelos
Fazer revolução
Vamos pisar em sua cabeça
Antes que o mal cresça
Contaminando quem é bom
Vamos dar um fim nesta besteira
Pois gente sem alma não é brasileira
Não tem coração
Não está nem aí para o seu povo
Blindam seu carro novo
E nem param em farol
Enquanto você aí do morro
Em busca de socorro
Pro muleque que foi baleado
Jogando futebol
Lágrimas do sol...