A COLHEITA DO CACAU
O podão sutil no fruto
resoluto o lança ao chão
o peão com sua bravura
nas alturas faz colheita
Cata-os fazendo ruma
que em suma fica fácil
a outro passo do peão
campeão que se respeita
Já começa o ritual
do cacau sendo quebrado
lado a lado os quebradores
são doutores desta seita
Quebra tora puxa e tira
solta embira do caroço
branco grosso que se empilha
maravilha é ruma feita
O peão certeiro e rápido
abre o intacto tesouro
branco ouro que derrama
e na cama-de-mel deita
Nas palhas do bananal
o cacau enquanto dorme
filtra incólome incolor
prá o sabor de mil receitas
Recolhido aos caçuás
sempre em par no lombo equino
do destino até o côcho
cai caroço pelas gretas
As ladeiras e declives
inclusive escorregadas
não são nada para a tropa
tudo topa e nada enjeita
Montado vai o tropeiro
galopeiro em cantoria
compor via "urro de guerra"
sem dar trégua a essa empreita
Caçuás descarregados
são levados para o côcho
lá caroços fermentados
afagados como em têtas
Depois vem o pisoteio
já no meio da barcaça
"choco-chaça" ritimada
despolpada a baga estreita
Hábil barcaceiro pinga
usa ginga e pá-de-pau
o cacau sendo avessado
torneado o sol lhe deixa
Na barcaça envernizando
vai mudando a sua cor
d'um brancor para um marron
novo tom do que aproveita
Depois de seco, o cacau,
ideal para o consumo
segue rumo ao armazém
onde a embalagem é feita
Costureiras se aproximam
vão por cima costurar
fechar saco de alinhagem
pra viagem com madeixas
Agora gênero pronto
já no ponto para a venda
sobra renda ao fazendeiro
com dinheiro rola e deita
Osman Matos