Espelho das Águas
E se já me negas os encantos teus,
Se, estando a sós, não vês os olhos meus,
Pra que ficar?
Já não trago a mesma graça
Da emoção do teu mistério.
E, se eu ficar,
Terei que inventar pecados
Para não deixar de ser
Diferente de mentira,
Pois não vais me compreender:
É que, no espelho das águas,
Está morando uma estrela
Que só eu consigo ver.
Vou, sem sonho, ou medo, ou paz
De não ser somente o orvalho do teu dia
Há sempre um cais na poesia.
Mas, se houver saudade bem depois do adeus,
Se, estando a sós, revês os olhos meus,
Pra que voltar?
Já me encontrarás cansada
Da ilusão do teu delírio.
E, se eu voltar,
Recriarei velhos pecados
Para não deixar de ser
Diferente de mentira,
Nem assim vais me entender:
É que, no espelho das águas,
Está morando uma estrela
Que só eu consigo ver.