Nego Cão
João Cão, escravo que não viu a liberdade,
Nego Cão viu a saudade ser doença dura de escravos africanos.
A saudade da terra, do povo da terra, da cultura da terra, da sua terra. O banzo.
Nego véio é que dizia,
Ai meu lombo, meu sinhô,
Num canto que não cantava,
A saudade era dor.
A chibata é que seduzia,
Com choro, com agonia,
Num canto que não cantava,
Com dor que remoía,
Banzo.
Nos caminhos de Auraucária,
O fumo era a riqueza,
Chama Cão, o caçador,
Homem do mato chamou,
Angelina fia minha,
Mulher de um homem só,
Com um só olho Nego Cão caçador,
Foi te buscar
Pra viver,
Perto do mar
E sonhar,
Em te encontrar
África.
Ô Malaui Õ Moçambique
ô Nigéria , Burundí
Angola, Nilo, Egito
Ramsés vai buscar
Diamantes no Sul.
E na beleza da cor
Daquilo que Deus criou
Os dominadores fizeram nascer um ranço de dor,
Da ambição,
Com amor,
Pelo poder,
Pela prata,
Do escravizador.
Corina,
Cadê suas terra minina ?
Homem branco tomou !
O branco que pede a paz na bandeira,
O negro que trai sua terra primeira,
Entregando nas Casas Cadeias
Seus irmãos de cor,
Com hipocrisia e reza
A beira dos cravos...Nosso Senhor.
Nego véio é que dizia,
Ai meu lombo, meu sinhô,
Num canto que não cantava,
A saudade era dor.
A chibata é que seduzia,
Com choro, com agonia,
Num canto que não cantava,
Com dor que remoía,
Banzo.
Saudade não venha me catar,
Tô vendo tristeza do outro lado do mar.
E Nego dançou a rasteira,
E todo povo entendeu...
Capoeira !