Fátima
Certo dia, andei nas ruas
E olhei você passando
Tão bonita e feliz
E olhando para trás,
Que pensei falar da vida,
Dos momentos que passamos,
Decidir nosso futuro,
Ou, talvez, só conversar:
“Como anda todo mundo?”
- Nem atravessei a rua -,
Meu caminho prossegui,
Não olhando para trás.
Vamos fingir: somos jovens
Que não se amarram no mundo.
A vida é assim mesmo,
Mas não queremos mudar.
Fique com os anjos, Fátima;
Não precisa ir comigo.
Já até fiquei cansado
De ver Fátima não ir.
Quando vou dormir contente,
Quando ando meio triste,
Já não sei o que dizer:
Não há ninguém para ouvir.
Quando a guerra é distante
Ou o tempo se estreita
Já não sei a quem chamar:
Não há quem queira lutar.
Quando olho parar o chão
Vejo lanças e escudos
Mas não vejo mãos chagadas
Erguidas para a batalha.
Vamos fingir: somos fortes
E que nada nos dá medo.
Vamos rir de tudo e todos
E dançar até amanhã.
Cante com os anjos, Fátima;
Viver é mesmo uma festa.
Já até fiquei cansado
De ver Fátima dançar.
Meus amigos são mentira.
Os meus sonhos são verdade.
Se perguntarem por mim,
Fui beber com uns colegas
Para esquecer de tudo
Que, um dia, aprendi:
Que voar é mesmo belo,
E promessas são promessas.
Eu ouvi alguém chorar
E lembrei-me de você:
“Chora a filha de Jefté
Nas colinas de Israel...”
Vamos fingir: somos águias
Voando e vendo tão longe...
Não pularemos abismos
Nem queremos acordar.
Sonhe com os anjos, Fátima;
Hoje o sol está tão lindo.
Já até fiquei cansado
De ver Fátima dormir.
Fátima...
Fique com os anjos...
Fátima...
Cante com os anjos...
Fátima...
Sonhe com os anjos...
Fátima...
Fátima...
Foi bom conhecer você.