Segunda-feira

Há certos dias que me dá uma vontade

de me tornar eu mesmo o meu seqüestrador...

De me levar para bem longe da cidade

só pra exigir algum resgate de amor.

Eu saio sempre, de manhã, desiludido,

indo pra luta sem ter nem pra quem voltar...

Pois me encontro cada dia mais perdido

porque me perco na ilusão de me encontrar.

E toda noite quando volto para casa,

seguindo a vida que me leva à contramão...

No fogo brando do ocaso eu como brasa

e o verso verte feito uma alucinação.

Há muito tempo que ninguém mais me socorre

na hora grave quando tenho estes impulsos...

Leio um poema do Neruda e tomo um porre

e choro aflito até querer cortar os pulsos.

Eu vou vivendo de morrer no dia-a-dia

sem ter ninguém com quem contar na multidão...

Mas toda vez que me embebedo de poesia

mais uma vez a minha dor vira canção.

Na solidão, se não me basto na insônia,

desatinado da ausência que há em mim...

Quando a esperança, de repente, me abandona

eu vou pra noite, me curar num botequim.

Retorno insone, com auroras nas olheiras

inebriado por estranha embriagues...

Pois todo dia, pra mim, é segunda-feira

e volto à luta pra viver mais uma vez.

Há muito tempo que ninguém mais me socorre

na hora grave quando tenho estes impulsos...

Leio um poema do Neruda e tomo um porre

e choro aflito até querer cortar os pulsos