O Fado Cruel dos Indigentes
Ele grita ele grita
ele berra mais que nós
ele vaga pelas ruas
ele voa entre os albergues
inda posso ouvir sua voz
é do coro dos mendigos
dos sem-teto e indigentes
e às verdades que ele grita
- as que ninguém desacredita -
todos passam indiferentes
Pelas ruas ele grita
Passa às vezes a cantar
Por um gole de birita
por um prato de comida
vezes para de gritar
fala mal de tudo e todos
governante ou militar
presidente ou senado
e se nego um trocado
quer tambem me criticar
Como esse homem grita
entre quem se acha gente
pobre esfarrapado humano
sem senhor nem soberano
passa ao mundo indiferente
Não tem onde cair morto
E por isso pouco teme
quando muito um violão
diminui a aflição
desse existir doente
Ele grita ele grita
ele grita mais que nós
mas ainda que tão alto
que se estalasse o asfalto
inda assim tem menos voz
Mas eu vejo no seu olho
Sua infelicidade
Tão grande seria o gosto
Fazer parte desse esgoto
Que chamamos sociedade
Ele grita ele grita...
Ele grita ele grita...