Mentiras, Pecados e Delírios (A Saga de um Malandro)
Esse tal sujeito, o bom rapaz
Trazia na cachola um poço de coisas vãs.
Concebeu, enfim, de ser capaz
De arrematar idéias, trapos, lampejos, divãs.
Em casa, na Rua Sete Pecados,
Na boca de um tal Seu Elizandro
Que profetizou o menino de falso recato
Pra começar a vida de malandro.
Valendo-se da tal inteligência
Poe-se a matutar umas mentiras magistrais.
Perfumes, balas, jóias, inferências,
Gigolot, boa pinta e de maneiras teatrais.
À caça de uma vítima demente
Tão cega, surda e muda de amor
Que abocanhasse inconscientemente
Juras, delírios e um falso amor.
Esse tal vagabundo adorável
Punha mel nas palavras para adocicar as fêmeas
E com tal rapidez inenarrável
Tornava-se a chave, a laranja, a alma gêmea.
Foi numas das trapaças do destino
Que pôs em seu caminho um problema.
Pondo-lhe em polvorosa e desatino
Por uma doce jovem, seu dilema.
A tal moça não era pra o seu bico
Mas o jovem malandro só queria se arriscar.
Buliu, mexeu, virou o tico-tico,
Por nada não iria se fazer escorregar.
Tratou de carimbar o seu passado
E despachar pra não haver engano;
Queria em pouco tempo estar casado
Mantendo tudo como sempre foi, ano após ano.
Não foi, nem é e nunca ela será:
Era pomposa, rica, bem-nascida e perspicaz
Do tipo que não dá colher de chá,
Mostrou a ele claramente do que era capaz.
Tão meiga, bonequinha, porcelana!
Deu trabalho ao pobre do malandro
Que por muito pouco não foi à lama
Aquilo que dissera um tal de Seu Elizandro.
Logo veio enfim o seu penar,
As tais mentiras já não era lá tão convincentes.
Chorou, bebeu, virou, tentou sarar;
A carreira tão curta já se dava por ciente.
Fez de tudo, pagou até promessa
A fim de arranjar a solução.
Traçou planos e metas, tinha pressa!
Sobressair-se era o conclusivo da questão.
De facada no pé à bala doida.
Um péssimo pretexto de doente rumo à morte.
Vizinhas meretrizes, vida afoita:
O fim de um sujeito que perdeu a própria sorte.
Foi delirando a te não querer mais
E veio o divórcio pondo um ponto final,
E sua rabugice de rapaz
De tão envergonhada, extirpou-se, afinal!
Hoje, ele ainda se acha demais
Jogando lá na praça um carteado matinal.