JALECO SEM POEIRA
JALECO SEM POEIRA
(Eduardo Mendonça)
Intérprete-Luiz de Jovino
(Dedico estes versos, baseados numa história real, à família do saudoso Manoel de Bastião).
DEPOIS DE OUVIR
MUITAS HISTÓRIAS NESSA VIDA
NESSA ESTRADA BEM COMPRIDA
EU FIZ A MINHA TAMBÉM...
EU NESSA VIDA
NUNCA FUI UM BOIADEIRO
NEM TÃO POUCO FUI VAQUEIRO
MINHA HISTÓRIA VAI ALÉM...
TENHO UM JALECO
NA MINHA SALA DECORANDO
OU TALVEZ SIMBOLIZANDO
O BOM TEMPO DAS BOIADAS...
ZELO COM AMOR
É UMA RELÍQUIA DO PASSADO
PORÉM NUNCA FOI USADO
NA POEIRA DAS ESTRADAS.
QUANDO EU ERA CRIANÇA
MORANDO COM MEU VELHO PAI
ESTE TEMPO LONGE VAI
EU TENHO RECORDAÇÃO...
PAI TINHA UM BOI
QUE CRIAVA COM CARINHO
ERA PRETO E BEM MANSINHO
POR NOME DE MANSIDÃO.
POR MUITOS ANOS
CARREANDO NAS ESTRADAS
PUXANDO CARGAS PESADAS
DESBRAVOU ESTE SERTÃO...
TEMPOS DEPOIS
O MEU PAI ADOECEU
QUASE TUDO ELE PERDEU
PRÁ GASTAR COM INTERNAÇÃO.
COM MUITA DOR
COM MEU CORAÇÃO PARTIDO
NOSSO BOI FOI VENDIDO
PRA MANOEL DE BASTIÃO.
TEMPOS DEPOIS
DALI MESMO EU FUI EMBORA
E SAIR PRO MUNDO AFORA
SEM DESTINO E SEM NOÇÃO.
MAS UM CERTO DIA
EU VOLTEI PRA MINHA TERRA
PRO CANTINHO LA DA SERRA
MEU BERÇO DE CRIAÇÃO...
COMPREI UMA ROÇA
BEM PERTINHO DA QUEIMADA
TERRA BOA, BEM CUIDADA
A MELHOR DA REGIÃO.
VI O SR. MANOEL
O VIZINHO DE OUTRORA
FOI CHEGANDO NESSA HORA
DIZENDO-ME COM EMOÇÃO:
“PEGUE MEU FILHO
ESTE COURO BEM CURADO
ERA DO BOI ESTIMADO
DO SEU PAI DO CORAÇÃO.
COM ESTE COURO
O SEU VELHO PAI QUERIDO
TEVE O CORPO AQUECIDO
NAS HORAS DE PRECISÃO.
TAMBÉM SERVIU
PRA SEU PAI SER SEPULTADO
PRA QUE SEJA BEM ZELADO
PONHO AGORA EM SUA MÃO”.
FIZ O JALECO
CORTANDO PELA METADE
MESMO CHEIO DE SAUDADE
DO MEU BOI, MEU MANSIDÃO.
FOI DO MEU PAI
ESTA JÓIA, ESTA HERANÇA
EU CONSERVO POR LEMBRANÇA
DENTRO DO MEU CORAÇÃO.
POR ISSO EU GUARDO
NESTA SALA PENDURADO
E JAMAIS SERÁ USADO
SERVE DE DECORAÇÃO.
É UM PEDAÇO
DO MEU VELHO ABENÇOADO
E DO MEU BOI ESTIMADO
DE GRATA RECORDAÇÃO.