ESCRAVO DO AMOR

Toda noite antes de dormir

Ela me chama

E como seu escravo

Sigo suas ordens

Vagueio sozinho ruas e avenidas

O vento frio me trás lembranças

Do corpo inerte que deixei para trás

Não sei se sinto

Ou insisto em amar

Algo no ar

Me diz para ficar

E esquecer aquele lugar

(mudanças de ares sempre me fazem bem)

Mas acredito em velhos fantasmas

Que me impedem de ficar (tenho de voltar)

No caminho de volta

Sinto o cheiro de pão quentinho

O gosto do leite e o azedinho do ar

Uma lágrima rebelde se faz escapar

E desce por minha face molhar.

Onde quer que eu vá

Sou escravo daquilo que me faz amar

Sou escravo de um sonho

Que se realizou

Sou resultado de uma vida

Que se apagou

Não sei se mereço

Essa vida de privação

Não sei se acredito

Nesse velho sermão

Que o amor que um tem

Vale pelo outro que não tem

Tento acreditar nessa vazão

Mas aos poucos minha fé vai ao chão

Sou cético com o coração

Dou mais ouvido a minha razão

Talvez por isso

Eu não viva mais então.