Abismo Da Escuridão - página 06

Por mais que eu dizia “parem”, era inútil. Eles sentiam cada vez mais vontade de aplicar o trote em mim. Com suas caras felizes e com meu corpo sendo segurado por seus braços, eles andaram ainda dentro da escola até uma região não muita longe da entrada. Era um lugar gramado nem um pouco movimentado, à direita do prédio da escola. Eles me jogaram em frente a uma das inúmeras árvores que tinham naquele lugar. Eu recuei deles até minhas costas colidirem com o tronco. Não havia mais para onde correr. Todos estavam me cercando.

_ Mostra a cara aí! _ disse um deles já com o dedo cheio de tinta vermelha. Eu tentei me defender, mas dois me seguraram, um deles era o gordão. Ele sozinho já valia por três. Enquanto isso, aquele que teve a intenção de me dar o trote no início, passava o dedo no meu rosto. Pude sentir a fria tinta preenchendo a região do meu rosto. Tive que cuspir, pois acabou entrando tinta na minha boca.

_ Olha só que bonitinho! _ disse terminando de passar. Eu nada falei. Foi então que o outro deu a idéia.

_ Pra combinar, agora só falta a roupa. _ Se não suportei a idéia de ter minha cara pintada, a roupa então era pior ainda.

_ Não! Parem! Isso também já é humilhação. Eu não posso entrar na sala se minhas roupas ficarem desse jeito. _ disse tentando convencê-los. Como se fosse conseguir.

_ Sabe que não seria uma má idéia. _ apoiou o gordo. Então eles começaram novamente. Só que dessa vez o alvo eram a minha calça-jeans e principalmente a minha camisa.

_ Tira a mochila dele pra pintar as costas. _ Eles tiraram-na e percebi que estavam escrevendo alguma coisa na parte de trás da camisa. Eu me cansei de se mexer, e deixei fazer o que eles queriam fazer. Já me sentia totalmente humilhado com aquilo. Uma sensação de impotência e de fraqueza me atingiu. Eu não podia fazer nada para impedir. Eles eram cinco e eu apenas um. E além do mais, eu não era muito forte. Mesmo se fossem dois, eu provavelmente ainda me daria mal.

Onde estão aqueles malditos inspetores quando se precisa? Como eles permitem este tipo de brincadeira numa escola deste porte? Os indivíduos que cometem esta atrocidade deviam ser suspensos, ou até mesmo expulsos dependendo do nível da brincadeira que não tem nada de engraçada. Mas sempre há aqueles que acham graça.

Enquanto era humilhado, vi duas meninas passando que olharam para mim. Irritei-me profundamente quando uma delas disse sorridentemente “Ih, olha aquilo”. E logo após a sua amiga também olhou pra mim. As duas riram, e depois disseram “Tomando trote”.Será que ninguém se importa com as pessoas que são obrigadas a abaixar a cabeça para os outros? Será que ninguém procura ajudar estas pessoas? Preferem olhar e não fazer nada. E ainda por cima, rirem. Isso se tornou muito comum no mundo hoje. Pelo menos pra algumas pessoas é assim. Aqueles que são desprezados continuarão sendo desprezados e aqueles que estão por cima tendem a passar por cima dos desprezados. Por que as pessoas gostam tanto de ver esse processo contínuo?

Talvez eu esteja errado. Não são todos os tipos de pessoas que são assim. Os mais adultos tendem a saber o que é certo e o que é errado. Mas olhando para a maioria desses jovens que vieram de uma educação pouco produtiva e firme, pode ser normal que pensem de um jeito tão ridículo. Aliás, todos os jovens deste tipo são ridículos. Os que estão aplicando o trote em mim fazem parte da pior espécie de jovens ridículos. Como estão sempre rindo, pra mim eles são a piada da sociedade. Pessoas que não contribuem em nada para o seu avanço, ao contrário, a estragam mais do que ela já está.

_ Olha só, achei uma nota de dois na carteira. _ disse um deles. Eu desviei meus pensamentos, e notei que um deles estava com uma nota de dois, tirada da minha carteira. Aquele era o meu único dinheiro.

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Na próxima página: Fiquei todo ferrado no fim, virando motivo de riso para os outros.